Exposição "Sonhos Refugiados"

by - sexta-feira, maio 15, 2020


Olá, gente! Muitas pessoas me perguntam sobre de onde surgiu a ideia de fazer um projeto com crianças órfãs sírias que estão refugiadas no Líbano e como foi o convite que resultou na exposição desse material no Museu da Imigração, em janeiro de 2019. Senti falta de compartilhar algo aqui sobre o assunto e vou aproveitar a oportunidade para mostrar um pouquinho desse trabalho para quem não conseguiu acompanhar naquela época, mesmo que com um "belo" atraso (rs). Espero que gostem! <3 

No ano passado, mês de janeiro (como passou rápido!!!) minha exposição estava em cartaz em um dos museus mais tradicionais do Brasil. Isso foi fruto de um trabalho bem bacana que fiz em parceria com uma ONG no Líbano.



Tenho um sonho antigo (que ainda será realizado) que é trabalhar na Síria, com crianças que ficaram órfãs por conta da guerra. Mas, até o momento é impossível chegar nesse país por tudo que está acontecendo, além de ser bem perigoso pricipamente para estrangeiros. Por isso, uma das maneiras que encontrei para estar perto dessas crianças foi trabalhar em parceria com a Instituição The Humanitarian Foundation for Social Welfare & Education que fica no Líbano, pertinho da fronteira com a Síria. 

Como uma boa brasileira, até tentei atravessar a fronteira porque sou bem teimosa, mas não consegui, não emitem mais vistos na fronteira como antigamente e não teria tempo de tentar fazer o processo em Beirute (capital do Líbano). Foi bem frustrante, mas valeu a tentativa...


Essa instituição a qual fiz esse trabalho é administrada pela Salwa juntamente com seu esposo. o Sr. Saifi. Eles são libaneses e vivem um pouco lá e um pouco aqui no Brasil. O trabalho que fazem com crianças sírias refugiadas órfãs é lindo demais, esses dois são uma grande inspiração para mim. Seres humanos que nasceram para fazer o bem ao próximo e me ensinaram demais. Pessoas especiais que estarão no meu coração e me dão mais energia pra continuar seguindo meu caminho ajudando a quem necessita. 


Além do meu projeto, desenvolvi mais algumas atividades juntamente com o pessoal que trabalha para a Instituição, como entrega de cestas básicas para famílias sírias que vivem em campos de refugiados.

















Eu e a Salwa, um anjo que apareceu na minha vida e hoje uma amiga que aguardo no coração

Na época que estive no Líbano, escrevi uma série de máterias para o site MigraMundo sobre o trabalho que realizei, sobre histórias de vida de algumas famílias refugiadas e sobre a Instituição também. Clique aqui para ler a reportagem e entender melhor como funciona o trabalho deles, <3 Ah, clique aqui também para seguir essa ONG que tem um trabalho lindo!

O projeto que desenvolvi com as crianças órfãs se chama "Sonhos Refugiados". A ideia era fazer uma atividade, onde elas desenhariam seus sonhos e o que pensam do futuro. O objetivo desse trabalho foi levar motivação e esperança a nós brasileiros, que temos o hábito de potencializar pequenos problemas, reclamar da vida o tempo todo e muitas vezes temos dificuldade de enxergar o valor das simples conquistas e experiências. Minha intençao também foi sensibilizar os brasileiros para a causa do refúgio (muitos têm preconceito e não sabem realmente o que significa ser um refugiado) e ficar mais perto dessas crianças que transmitem uma força e uma energia inexplicáveis. Foi uma das melhores experiências da vida.

A Salwa foi um anjo em minha vida quando estive no Líbano porque, além das crianças cadastradas na ONG que foram fazer a atividade comigo ne sede, ela me levou pra conhecer algumas das que viviam em acampamentos montados pelo Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), onde consegui enxergar a verdadeira realidade desses pequenos, que algumas vezes perdem a todos da familia e outras vezes permanecem com algum integrante da família que teve sorte de sobreviver a guerra.





Há uma reportagem bem emocionante que escrevi para a mesma série do site Migra Mundo que retrata a realidade de uma mulher que vive em um desses campos e cuida de 17 crianças da família dela que perderam seus pais. Clique aqui e se emocione como fiz durante todo o tempo que estive por lá.


Abaixo, compartilho a miha foto com essa guerreira:



Como foi me hospedar em Zahlé 

Zahlé, também chamada de Zahlah ou Zahleh, é a capital de Beqaa. Com uma população estimada em cerca de 120,000 pessoas, em sua maioria cristãos, é a terceira maior cidade do Líbano. É considerada uma das principais cidades do vale do Beqaa e é famosa pelo seu ar puro, hotéis e resorts e comida típica de alta qualidade. Trata-se da principal referência gastronômica libanesa. Eu simplesmente amo a comida libanesa e engordei uns dois quilos de tanto que comi durante o tempo que estive por lá. É simplesmente maravilhosa.












A ONG ficava bem próxima do local que eu estava hospedada. No geral, a experiência no Libano foi extremamente gratificante, além do quanto que comi, como comentei acima (rs). Que comida maravilhosa, pra mim a melhor do mundo, não me canso de falar. 


Fiz um post contando sobre a cultura libanesa, os passeios que fiz, etc. Vocês podem ver clicando aqui, porque nesse post o foco é o projeto com as crianças. Mas, de verdade, não deixem de ler porque esse país é realmente muito interessante!!! Abaixo compartilho algumas fotinhos só para deixar vocês com vontade e curiosos para lerem o post (rs)!









Um olhar para o drama além da tragédia

Quando me propus fazer essa atividade procurei crianças acima de seis anos, que já conseguem desenhar e lembrar do que viveram antes de se refugiarem no líbano. Muitas delas chegaram ao Líbano bem pequenas e não se recordam de muita coisa. Pra quem não sabe, o Líbano abriga mais de 1 milhão de refugiados vindos da Siria.


Atualmente, o país que mais abriga refugiados sírios é a Turquia, logo em seguida está o Líbano. Tenho que confessar que, juntamente com a experiência que tive no Haiti, conviver com essas crianças durante esse projeto no Líbano mudou bastante a minha vida.

Na verdade, os sírios não são considerados “refugiados” para o governo libanês, são considerados “deslocados”, isso porque o Líbano não assinou a Convenção de 1951. Porém, o país faz parte do executivo do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e delega a ele então, desde 2003, a responsabilidade de cuidar dos que pedem asilo.

Quando propuz a atividade dos desenhos, não sabia bem qual seriam os resultados, o que de fato expressariam através deles. Mas, "quase caí de costas" quando vi crianças desenhando bombeiros e médicos. Segunda, elas, tinham o sonho de curar pessoas feriadas na guerra, apagar o fogo de casas incendiadas por bombas e outros relatos de tocar o coração profundamente.

Crianças de 7, 8 anos, dizendo que pretendem ser costureiros para confeccionarem roupas para crianças que necessitam e desenhos de quando a família toda ainda estava viva e unida muda a vida da gente no mesmo momento e faz com que reflitamos sobre nosso modo de ser e agir. 
O que mais me surpreendeu é que, apesar de tudo que viveram (muitas carregam cicatrizes profundas, platinas e pinos na perna), estão sempre sorrindo e conseguem enxergar uma vida pela frente.

Experiências de guerra, prisão e tortura no país de origem, assim como na fuga de meses para outros países sobrecarregam muito essas crianças. A situação nos campos de refugiados, a discriminação e o isolamento aumentam a carga psicológica. A maioria vive n
os abrigos, com milhares de pessoas em um espaço confinado, mas mesmo assim são crianças doces, têm espírito de solidariedade e passam energia positiva e muito amor.

Claro que cada uma delas possivelmente carrega alguma dor dentro de si, mas é visível a vontade de viver nos olhinhos de cada uma delas. Crianças que poderiam ser revoltadas me passaram tranquilidade, uma lição de vida que jamais esquecerei.

A Salwa me ajudou a traduzir e desenvolver essa atividade, individualmente. Sem ela pouco desse projeto ou talvez nada teria sido desenvolvido. A Salsa, irmã dela (que inclusive tem um restaurante no Líbano com uma comida maravilhosa (rs)), também me ajudou bastante. Foi um trabalho em conjunto que só saiu perfeito porque tive anjos que caminharam comigo. 



Clique aqui pra ver como eram as entrevistas na hora de escrever as minhas matérias e aqui. Nadaaaa fácil, mas muito gratificante.


A atividade

Procurei deixá-las o mais a vontade possível durante a atividade. No começo elas ficaram um pouco tímidas, receosas mas depois começam a surpreender com os desenhos e ideias mais incriveis e fofas do mundo.

Para desenvolver uma atividade dessa é necessário que ter experiência com crianças refugiadas, saber a história de cada uma delas, conhecimentos profundos do que o país de origem está passando. Não podemos alimentar os traumas, nem forçá-las a falar o que não querem ou não conseguem. Fui aprendendo isso aos poucos, porque já tinha desenvolvido trabalhos em campos de refugiados na Grécia e fiz três anos de voluntariado em duas ONGs no Brasil que trabalham somente com pessoas refugiadas. Além disso, como jornalista investigativa que fui por mais de três anos, a gente acaba desenvolvendo um jeito especial de falar com cada tipo de pessoa, principalmente quando se trata de uma questão tão séria. Minha intenção jamais foi machucar ou alimentar algo ruim e sim espalhar energia boa e alimentar os sonhos desses pequenos.






Esse projeto superou minha expectativa, foram 21 crianças sirias que fizeram a atividade. 
























Clique aqui para ver um pouquinho de como foi a atividade. São vídeos que fiz e guardo com todo o amor. Essas folhas lindas foram feitas pela minha mãe, a quem eu devo agradecer por tudo. Todos os meus projetos, minhas viagens e tudo que proponho realizar ela me apoia, me dá forças (fora que é uma artista e está sempre me ajudando a desevolver atividades bacanas).


O porquê escolhi desenhos

A minha ideia era dar voz aos refugiados, mas não necessariamente focando em tragédias. Eu queria fazer com que as pessoas de fora refletissem sobre o que está acontecendo com os refugiados no mundo, mostrar quem são essas crianças, quem são suas famílias, de onde elas vêm, o que faziam antes de deixarem suas casas. 

Apesar da intenção de dar voz às crianças órfãs refugiadas, entrevistá-las não foi uma tarefa fácil porque muitos são tímidos e desconfiados. Daí a iniciativa de pedir que expressassem seus sentimentos usando lápis de cor e uma folha em branco. Muitas vezes o que não pode ser expressado com palavras por qualquer motivo, uma imagem pode ajudar.













Em algumas situações, desenvolvi a atividade na casa dessas crianças. Fui sempre bem recebida pelas famílias, sempre preocupadas em me servir um café árabe ou algo para comer. 
















Minha amiga editora, Geicimara Moro (sigam ela no face porque ela é ótima editora), me ajudou a editar um vídeo sobre essa viagem ao Líbano que ficou lindíssimo e, sem dúvida, foi o divisor de águas para minha exposição parar no Museu da Imigração por mais de um mês. Assistam o vídeo clicando aqui que dá pra ter exatamente a ideia do qual emocionante foi fazer esse trabalho. 





A exposição no Museu da Imigração




Fui convidada para expor o material que trouxe do Líbano pelo Museu da Imigração do Estado de São Paulo, que fica na cidade na Mooca, zona leste da capital paulista. O Museu preserva a história das pessoas que chegaram ao Brasil por meio da Hospedaria de Imigrantes do Brás, e o relacionamento construído, ao longo dos anos, com as diversas comunidades representativas da cidade e do estado.

É no entrelaçamento dessas memórias que se encontra a oportunidade única de compreender e refletir o processo migratório. Ao valorizar o encontro de múltiplas histórias e origens, propomos ao público o contato com as lembranças daquelas pessoas que vieram de terras distantes, suas condições de viagem, adaptação aos novos trabalhos e contribuição para a formação do que hoje chamamos de identidade paulista.

Entretanto, a história da migração humana não deve ser encarada como uma questão relacionada exclusivamente ao passado; há a necessidade de tratar sobre deslocamentos mais recentes. Por isso, o Museu da Imigração fomenta o diálogo sobre as migrações como um fenômeno contemporâneo, que não se encerra com o fechamento das atividades da Hospedaria, reconhecendo a recepção dos milhões de migrantes atuais e a repercussão deste deslocamento para a cidade.

Quando recebi o convite estava morando fora do Brasil e tive que organizar uma data que estivesse aqui para pelo menos estar presente no dia da inauguração. Fiquei extremamente lijongeada porque nesse local só são expostos trabalhos incríveis e a seleção para isso é bem rígida e burocrática. A exposição fez parte do mês de férias das crianças (janeiro/2019) e foi a realização de mais um sonho.

Os funcionários que trabalham no Museu foram super carinhosos com o meu material, fizeram um revestimento de vidro em cada um dos desenhos, que foram pendurados no teto de uma das sala. Dessa forma os convidados puderam interagir com cada todos eles, ficou realmente muito fofo.








No dia da inauguração o
Museu lotou, dei algumas entrevistas e até a Globo apareceu por lá para fazer um ao vivo. Clique aqui para assistir o vídeo completo feito pela emissora.



Minha família e amigos queridos também estiveram por lá, foi realmente inesquecível poder compartilhar isso tudo com quem amo.









No final da inauguração em nome da Salwa e do Sr. Saifi (que também atua como Presidente do Islã para a América Latina), o Sheik Kamal me entregou um prêmio de reconhecimento pelo meu trabalho, foi muito e gratificante e inesquecível.




No final do ano passado, tive o prazer de ser convidada pelo Sr. Saifi para estar presente em um congresso e pudemos nos reencontrar.




É isso! Fico feliz de poder compartilhar mais um sonho realizado, mesmo com um pouquinho de atrasado. Deixem seus comentários e até o próximo post! Beijinhos!



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