Boneca de Ferro na Bolívia

by - terça-feira, dezembro 19, 2017



Olá, gente! Hoje vou compartilhar minha primeira viagem internacional feita de ônibus quando era totalmente inexperiente! Espero que gostem e aproveitem as minhas dicas!


Vista da ilha de Taquile, durante um passeio no Lago Titicaca



De onde veio essa ideia maluca?


Ir para Bolívia de ônibus foi algo que jamais imaginei que faria na minha vida. Aliás, viajar para a Bolívia nunca esteve nos meus planos. Morava em Cusco (2009), no Peru, e comecei a conhecer pessoas que “viviam da viagem”, mochileiros de todas as partes do mundo e a partir daí comecei a fui abrindo a minha cabeça e aprendendo que para conhecer muitos países não é preciso de um avião e que existem formas mais baratas e até mesmo mais práticas de explorar o mundo.

Tenho que confessar que se morasse no Brasil seria muito difícil comprar um pacote de viagem para conhecer a Bolívia, alías, não conheci ninguém até hoje que me disse “Tô indo passar minhas férias em La Paz”.

A ideia partiu de uma conversa em um Hostel entre vários viajeiros que me contaram que chegar a La Paz de ônibus seria uma boa pedida, tanto pelo preço quanto pela diversão, experiência, etc. Lembro como se fosse hoje, todo mundo sentado no chão e uma colombiana, que já nem lembro o nome, fazendo dread no meu cabelo. O papo rolava solto e bebíamos Rum. Exatamente, lá no Peru as pessoas bebem isso como bebemos cerveja aqui.

Depois dessa conversa, liguei para a Aline, e a convidei para fazer essa aventura. Conheci a Aline dentro do avião indo ao Peru, estudamos espanhol juntas em Cusco e somos amigas até hoje. Ela mora no interior de São Paulo (Ribeirão Preto) e nos vimos mais algumas vezes depois que voltamos ao Brasil.


Nós, na fronteira Peru/Bolívia


Mesmo com medo (era a primeira viagem dela), a Aline super topou. O plano era ir até a rodoviária, comprar o bilhete mais barato que tivesse para chegarmos a La paz, passarmos uns dias e voltarmos pra Cusco. A Aline era mais medrosa que eu. Até hoje não sei como ela aceitou (rs). Mas foi, e foi super parceira em todos os momentos, inclusive quando ficamos presas na fronteira (rs).

Dois mil e nove foi quando o bichinho da viagem me picou. Na verdade foi em 2007, quando viajei pela primeira vez com a minha irmã ao Chile e Argentina. Mas, 2009 foi quando realmente meu coração bateu mais forte, me apaixonei por viagens e passei a sentir uma vontade louca de sair explorando o mundo. Foi exatamente após essa minha temporada no Peru que englobou essa viagem a Bolívia e uma outra ao Equador, tudo de ônibus. 

Estava “virando uma mochileira” sem perceber. Foi quando abri meus olhos para algo que não conhecia. Quando enxerguei que a beleza não estava somente no Caribe, na Disney. A beleza estava perto, a América do Sul é um continente lindo e que deve ser valorizado e explorado pós nós brasileiros! Cada país tem sua cultura e passei a entender, pouco a pouco, que viajar é muito mais que conhecer pontos turísticos. Viajar é VIVER culturas (profundo, mas é super real.. rs). Mas, vamos continuar!


De Cusco a Puno- Que viagem!!


Chegamos na rodoviária e pedimos uma passagem para a Bolivia. Super simples (rs). Duas loucas que mal sabiam usar transporte público em São Paulo querendo atravessar um país de ônibus (rs). Nosso espanhol era bem ruim (fazia menos de um mês que estava vivendo no Peru). 

O trajeto inicial seria Cusco –Puno. Não consigo lembrar qual a empresa de ônibus, são quase dez anos! Mas, ande pela rodoviária e pesquise bastante porque mesmo que lembrasse, não a indicaria. Foi horrível (rs)!




Rodoviária de Cusco




Viagem arriscada até Puno


Puno ainda é no Peru, às margens do Lago Titicaca. Disseram que chegando nessa cidade íamos conseguir acessar a fronteira, então partimos. Haviam ônibus de todos os tipos e valores. Ao invés de pegarmos um confortável, que na época devia custar uns poucos dólares a mais, quisemos o mais barato (aqueles de linha que o povo nativo anda) e lembro que pagamos em torno de 15. Loucas, loucas mesmo! O veículo era do século passado, a janela do lado do meu assento não fechava. Fui tomando chuva o caminho inteiro. Além disso, as quase 8 horas viajadas foram segurando sacolas enormes. As sacoleiras nativas também usam esse tipo de transporte e durante as revistas da polícia pediam pra gente segurar algumas delas para que os policiais não implicasse. Lembro da cara da Aline devia que queria me matar, como se fosse hoje (rs)!

A viagem foi na madrugada e o motorista devia ter algum compromisso urgente, porque corria feito um louco. Várias paradas na estrada para revista, chuva forte o tempo todo. Deus, tenho que agradecer por estar viva. Encarar aquela estrada horrível e cheia de serras é uma prova de vida!! Acho que foi a partir daí que eu percebi que viajar perigosamente era comigo mesma (rs). 

Mas, falando sério agora: hoje penso que foi um pouco de irresponsabilidade da nossa parte, porque comprar uma viagem mais segura e confortável era pouquíssimo mais caro. Valia a pena ter investido. Algumas vezes é necessário pensar mais na segurança. Nesse dia pensamos somente no dinheiro. Fico pensando quando minha mãe ler meus posts, nunca mais vai dormir quando eu estiver viajando! (rs). Mãe, já não faço mais essas coisas!




Passagem por Puno (a caminho de La Paz)


Chegamos em Puno com um nível de estresse que nem sei explicar. Tudo acumulado dentro de mim e tentando não demonstrar e passar segurança para a minha amiga. Claro, eu que inventei isso tudo e ela só estava indo no meu embalo. Na verdade acho que a Aline era mais louca do que eu por confiar em mim tanto assim (rs).

Missão parcialmente cumprida! Procuramos um hostel para dormir. Não consigo lembrar qual foi e nem tenho como dizer e se ele ainda existe (são quase dez anos, o que não ficou anotado no meu caderninho a cabeça nem sempre lembra), mas como é um local de fronteira há muitas opções baratas para mochileiros se hospedarem. 

Naquela época não existia whatssap, wifi e nem celular com internet e dava desespero querer se conectar com o mundo e não poder. O jeito era sempre ir atrás de lan house ou aquelas cabines telefônicas de rua para mandar um e-mail ou até mesmo pagar pra fazer uma ligação pra a família e dizer que estava tudo bem. 




Na fronteira Peru/Bolívia




A cidade de Puno é a principal base para conhecer o Titicaca, lago navegável mais alto do mundo. Puno fica a 143 km de Copacabana, na fronteira da Bolívia, A cidade é normalmente incluída no roteiro de quem viaja pelos dois países. Ela não é bonita e não tem muito a oferecer, por isso nem fomos bater perna. O principal atrativo está no lago: as ilhas flutuantes de Uros. 

Sabendo disso, depois de bater papo com o pessoal que a gente encontrava por lá, fomos tentar conhecer essas ilhas. Como vocês podem ver, nada planejado. Tudo na loucura. Hoje não seria assim, teria feito um roteirinho, mas creio que para ter a coragem e independência que eu tenho hoje tive que passar por isso. Temos que levar em consideração que apesar da nossa falta de maturidade e inexperiência, após quase dez anos as coisas planejar uma viagem é bem mais fácil. Não ter um celular bom na mão com internet, GPS, Google, câmera fotográfica, Whatssap e e-mail para comunicação, etc, dificultava demais!


Passeando pelas Ilhas Flutuantes no Lago Titicaca


Contratamos o passeio com uma pessoa que conhecemos no hostel. Os barcos saem do porto da cidade de Puno para as Ilhas flutuantes de Uros. Quando compramos, o tour englobaria Uros e Ilhas Taquile por 90 soles. É fácil de comprar o passeio na hora – tinham vários pontos de venda perto do porto, porém, sempre recomendo que vocês busquem indicações com seu hotel ou algum amigo, porque muitos nativos aproveitam para "passar a perna nos turistas". Não confiem em qualquer pessoa!









Achei essa foto no meu HD, nem lembrava disso (rs). Quem é vaidosa sempre dá um jeitinho de passar o make, inclusive para passear de barco nas ilhas flutuantes (rs).


Mais ou menos uma hora de percurso chegamos a uma das Ilhas de los Uros – um conjunto com cerca de 20 ilhas flutuantes, que são feitas de totora e fio de nylon pelo povo “Los Uros” que as habitam e dão manutenção. Ficam amarradas para evitar que a corrente as leve para o lado boliviano do Lago Titicaca. Um dos moradores da ilha nos mostrou como elas são construídas, através de uma pequena maquete. 

Cadê o celular com câmera para gravar um vídeo e fazer uns stories(rs)? Ainda bem que existe a memória, um caderno e o dom de escrever. E posso confessar uma coisa? Claro que seria incrível ter essa tecnologia, principalmente para rechear o blog de coisas legais, mas não dá pra negar que naquela época as pessoas aproveitavam mauito mais os passeios, não ficavam tanto tempo fazendo fotos, vídeos e usando o Whatssap. Hoje, muita gente parece que viaja pra mostrar e não por paixão. Enfim, vamos deixar as polêmicas de lado, mas é algo a se pensar...
















Há alguns anos, diversas famílias habitavam as ilhas, porém, muitos dos jovens partiram para tentar a vida em outras cidades, restando hoje poucas famílias que vivem do turismo a Ilha. Todos usam roupas típicas e as crianças são uma fofura. As mulheres vendem artesanato, enquanto os homens trabalham na cidade. 





































Depois seguimos viagem para a Isla de Taquile, e em 30 minutos estávamos lá. Taquile é a terceira maior ilha do Titicaca, possui mais de dois mil moradores e as famílias de lá plantam e criam animais para seu próprio sustento. Depois de uma subidinha tensa (eu e a Aline estávamos morta, pois ainda não estávamos recuperadas da viagem de bus), chegamos até uma casa local. Em uma varanda com uma bela vista do lago, nos serviram um almoço. E sem exageros, foi “o almoço”: sopa de quinoa, arroz, legumes e trucha (peixe, que no caso não comi). E depois teve ainda chá de coca, que era algo que já fazia parte da minha vida no Peru, e muita dança típica. E adivinha quem foi convidada para dançar com eles? Veja abaixo (rs)!












Claro que fui a escolhida pra dançar (rs) e fui, porque são lembranças para guardar pra vida toda e viver culturas é a minha maior paixão








Até aquele momento estava dando tudo certo, Graças a Deus. Nossa aventura estava valendo a pena. Pouco dinheiro, muito cansaço, mas desfrutar de tudo aquilo e viver algo que eu nem sabia que existia não tinha preço. Cresci muito como mulher a partir dessa experiência, acredite.

Depois do almoço continuamos a travessia da ilha a pé, o que leva mais de uma hora (e eu com uma bota de salto alto para não perder o costume...rs). A vista é tão linda que nem sentimos cansaço e nem mal de altitude – vale lembrar que estávamos a mais de 3.900 metros acima do nível do mar. Pegamos o barco e voltamos pra Puno. Uma hora de trajeto e mais uma missão cumprida. Agora era hora de atravessar a fronteira e chegar em La Paz.































De Puno a La Paz

Adeus Peru, Olá Bolívia!! :)


Nosso destino final era La Paz. Mas como chegar lá? Conseguimos uma van que nos levou até a fronteira. Mais cinco horas de viagem. Nem imaginava que era tudo isso. Chegava a China, mas não chegava a Bolívia. A notícia para minha família sempre era dada depois que eu já tinha aprontado (rs). “Mãe, tô na Bolívia”. “Ondeee?”. “Calma mãe, tá tudo bem”. Era mais ou menos assim. Tinha vinte aninhos, mas já aprontava que nem gente grande.


Imigração – Passagem pela Fronteira a pé
























Chegamos na fronteira e fomos caminhando. Paramos na imigração do Peru e passamos direto na imigração da Bolívia. Como ia saber que precisava passar nas duas? Duas meninas desinformadas e um problemão que tínhamos acabado de arrumar e só íamos saber disso na volta. Já conto o que aconteceu. O processo na imigração foi livre de estresse: preenchemos um papel, apresentamos o RG (nem precisa do passaporte) e pronto.


Entramos em La Paz a pé, com uma mochila enorme nas costas! Depois de quase dez anos estou bem melhor em relação ao tamanho das malas, mas ainda preciso trabalhar muito a ideia de querer levar uma roupa pra cada dia, saltos, bolsas variadas, etc. Sou muito vaidosa, gosto de me vestir bem, mas é preciso colocar na cabeça que algumas viagens, principalmente aquelas que são voltadas para a aventura, pedem pouca roupa, pouco peso nas malas. E convenhamos, que nunca usamos tudo aquilo que colocamos na mala, não é mesmo?. 

Enfim, estávamos a “cara da derrota”, mas chegamos no destino final e fomos atrás de um hostel pra ficar. 


Estadia em La Paz





Encontramos um hostel (não vou divulgar o nome porque procurei na internet e não achei, talvez tenha fechado), mas era algo baratinho e simples. Há muitos desse tipo no centro da cidade.

Dividi um quarto super simples com a Aline. Foi primeira vez que fiquei em um hostel onde o banheiro era compartilhado com outros hóspedes. Claro, estranhei, achei meio nojentinho, mas quem é mochileiro me entende, não dá pra fazer mochilão se não aprender a se hospedar em hostel. É só saber procurar um local limpo e organizado e não terão maiores problemas. Depois dessa experiência já compartilhei, inclusive quarto, em outros hostel pelo mundo e hoje sou super acostumada com isso. Vivendo e aprendendo.



Nosso quartinho, meu e da Aline



Alimentação


A cidade é muito visitada por mochileiros, então não é difícil encontrar hospedagem, mesmo que seja bem simples. Esse post sobre La Paz, me perdoem, mas não terão muitas dicas de restaurantes. Queríamos economizar, então a maioria das nossas refeições era miojo. 

Mas, posso dizer que pelo que pesquisei e vi quando passava nas ruas e parava em alguns restaurantes para comprar algo para beber, se alimentar na Bolívia é meio que uma aventura. Se vocês são meio frescos pra comer, sugiro que se preparem para se alimentar de muita bolacha, salgadinho e batatas em lata. Brincadeira… ou não. Na verdade, as comidas são bem diferentes do Brasil, principalmente no que se refere a higiene. Até existem alguns restaurantes melhores, mas não são muito limpos. Há inclusive alguns lugares onde se vende comida em um lado da rua e o esgoto correndo abertamente do outro lado, isso eu lembro muito bem. 





















Não acredito que achei uma foto comendo um milho que comprei nas ruas de La Paz e uma outra do meu prato de miojo. Tá aí a prova de tudo que escrevi (rs)



Miojo de cada dia (rs)


Nas ruas você pode encontrar as mais variadas formas de comida, algumas tem boa aparência, outras nem tanto, mas quem sou eu pra criticar, respeito todas as culturas. Só exponho a minha visão, que pode ser diferente de outros turistas. Posso aproveitar pra acrescentar que frango frito e batata é de fato o prato mais tradicional porque todo lugar que eu passava estava vendendo isso.


Pouco tempo- Rápidos passeios pela cidade


La paz é a cidade mais populosa da Bolívia e conhecida como a capital mais alta do mundo. Já estava morando no Peru há um mês, então já convivia melhor com essa questão da altura, mas mesmo assim tivemos que driblar a falta de oxigênio. A altitude é de 5 000 metros, loucura! E como se não bastasse essa falta de ar que é até meio comum, a cidade é cheiaaaaa de ladeiras. Tive a impressão que não existem ruas retas, nada é plano, tudo é íngreme, muita subida e descida o tempo todo.

A gente andava um pouquinho e tinha que parar. Vinte anos, mas parecia que tinha cinquenta. Nunca me esqueço disso. Muitas pessoas passam muito mal quando chegam em La Paz, sangra o nariz, ficam com enjoos, muita dor de cabeça, enfim, já li história de pessoa ficar de cama e passar muito mal até se acostumar com a altitude. Fiquei preocupada, mas nada aconteceu com a gente, acho que estávamos vacinadas contra a altitude. 

Na verdade, é muito fácil se encontrar no centro de La Paz e andar por lá, a cidade até que não é tão grande, muito menos o centro. Mas por causa da altitude e também das ladeiras intermináveis, para chegar de um ponto para outro é um parto. Demora muito, você fica sem ar, até subir a rua toda, já foram uns quinze minutos, então é isso que dificulta. A cidade é literalmente um morro. Na minha opinião, não é um lugar com muito pontos turísticos bonitos. 

Além do trânsito, o que chama a atenção é o comércio, que é constituído basicamente por algumas lojas e milhares de ambulantes espalhados pelas ruas. Em sua maioria o comércio ambulante é formado por cholas, que vendem de tudo como: frutas, legumes, pães, carnes, queijo, brinquedos, produtos de higiene, roupas, ervas, enfim, tudo mesmo. Tipo um mercado (rs). E por falar em comércio, as coisas lá são MUITO baratas, desde roupas, comidas, eletrônicos, transporte. Saí comprando tudo, até bichinhos de pelúcia que via na rua (o que eu tinha na cabeça?) Nunca vi tanta coisa barata! O difícil foi carregar depois, atravessar o país novamente com uma mochila que pesava cem quilos (rs).

Selecionei alguns lugares que conheci e acho que vale a pena dar uma passadinha se vocês estiverem por lá. Todos eles visitamos a pé!

Mercado de las Brujas / Mercado das Bruxas: é uma região da cidade que tem muitas lojas e é muito visitado por turistas. O mercado recebe esse nome porque em muitas barraquinhas e lojas encontramos uma grande variedade de poções supostamente mágicas, sementes e fetos de lhamas. Quase enfartei quando vi (rs). Dizem que servem para fazer oferendas e quando enterrados na frente das casas trazem sorte.



















Suco de Tamarindo: quem não assistiu o episódio do Chaves em que ele toma suco de tamarindo? Pois é, realizei esse "sonho" (rs) em uma barraquinha nas ruas de La Paz. 





Plaza Murillo: é a principal praça de La Paz, marco zero da cidade. É cercada por prédios históricos, entre eles o Palácio Presidencial, o Palácio Legislativo, sede do parlamento boliviano e a Catedral. 

Como qualquer outra praça, é cheia de arquitetura histórica e bastante frequentada por turistas.




Museo da Coca: está localizado no Mercado de La Brujas e vale uma visita. É um ponto turístico importante para desmistificar uma série de questões relacionadas à coca. Ele explica historicamente qual a importância dessa folha para o povo boliviano e fala sobre como ela é utilizada. Pena que não pude trazer nada para o Brasil.








Outros lugares bacanas: há diversos pontos turísticos, mas tínhamos pouco tempo e era necessário voltar pra casa. Tínhamos uma vida de estudante e não podíamos perder muitos dias de aula. Quem tiver mais tempo pode conhecer lugares legais como o Mirador Kili Kili, Vale de La Lunna, Chacaltaya e a chamada Estrada da Morte. Esta última me arrependo de não ter conhecido. É considerada a estrada mais perigosa do mundo e hoje em dia não é permitido a passagem de veículos por conta do número de acidentes. O passeio oferecido é de bike e dizem que é um tour lindo e emocionante.


Perrengue na volta ao Peru- presas pela imigração da Bolívia


Era hora de voltar pra Cusco. O trajeto foi exatamente o mesmo da ida. Tudo igual, com exceção do tempo em que ficamos presas na fronteira da Bolívia. No começo do post contei que, sem querer, paramos na imigração do Peru e passamos direto pela da Bolívia. Conclusão: não tínhamos a ficha preenchida e carimbada do lado boliviano, era como se estivéssemos entrado ilegalmente no país. Os policias pediram o papel, não tínhamos e expliquei que não sabíamos como procedia, por isso não pegamos. Expliquei que era nossa primeira viagem, que éramos estudantes, tínhamos residência fixa, mas ele não acreditou (ou não quis acrediar para tentar tirar alguma vantagem sobre a gente), nos levou para uma salinha e fechou a porta.

Não sabia se ria ou chorava. Como fazer esse cara acreditar na nossa inexperiência, ou melhor, na nossa burrice (rs)? Essa hora a Aline já estava querendo chorar e eu pensando em como sair dessa. Sem telefone, em outro país, espanhol ruim, chegou uma hora que até eu estava querendo chorar, mas me mantive firme pra poder conversar com o policial e tentar ir embora o mais rápido possível

Depois de umas três horas sentadas no chão “de castigo”, cansadas e apreensivas o policial entrou na salinha e nos propôs pagar 180 dólares para sermos liberadas e saiu dizendo para estudarmos a proposta. Na mesma hora, a Aline arregalou os olhos toda feliz e me cutucou querendo dizer: “Vamos pagar!!”. Eu mandei ela ficar quieta, que não íamos pagar nada. Os caras estavam querendo nos extorquir! Disse a ela para confiar em mim que íamos sair dessa sem precisar pagar. Quando o policial voltou, fiz um teatro! Acho que se não fosse jornalista podia tentar a carreira de atriz. Inventei que o dinheiro total que tínhamos na carteira não passava de 20 dólares, que eram exclusivamente pra passagem de ônibus para voltar a Cusco. Falei que mal tínhamos dinheiro para comprar comida. Ainda bem que ele não pediu para abrirmos as bolsas. Olhou com uma cara feia e saiu.

Tomamos uma canseira de mais uma horinha, mas percebi que ele tinha a intenção de nos liberar. Tadinha da Aline, meti a garota numa enrascada. Ela não era entrona, cara de pau e metida a corajosa como eu. Era toda meiguinha, filha única e estava fazendo a primeira viagem sozinha da vida dela. Nesse momento juro que a minha consciência pesou e pensei que, por minha culpa, minha amiga teria traumas futuros (rs).

Logo o policial voltou e disse que ia nos liberar, mas que queria pelo menos um “refresco”. Eu, fingindo que não entendia a palavra em espanhol, ofereci a garrafa de Coca Cola na bolsa dizendo que era o único refresco que tinha (rs). Ele me olhou com uma cara de “desisto dessas meninas pobres”, mandou seguirmos nosso caminho e disse para nunca mais repetirmos essa atitude em nossas vida,

Estávamos "em liberdade" outra vez para continuarmos a nossa volta pra casa. Obrigada, Deus, não somente pela liberdade (rs), mas também por essa experiência incrível e inesquecível. Nem preciso responder se mais alguma vez na vida esqueci de passar pelas duas imigrações, né? Aprendi a lição direitinho.


Gostaram do post? Dúvidas? Deixem comentários! Beijinhos ;)

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