Boneca de Ferro no Equador

by - domingo, dezembro 17, 2017


Olá gente, hoje vou contar minha experiência vivendo no Equador com uma família coreana! Espero que gostem dessa minha aventura um tanto quanto exótica!


Eu e um coreano bailando salsa :)




Bienvenido al Ecuador


Essa viagem que fiz do Peru ao Equador (de ônibus) não foi nada programada. Nem sei o que eu tinha na cabeça quando decidi ir. Na verdade, ainda bem que eu não tinha todos os parafusos no lugar, senão talvez nunca teria conhecido esse lugar que me surpreendeu muito. Já adianto que tenho poucos registros e alguns deles não tão bons. Há oito anos, como todo mundo sabe, não existia essa tecnologia que temos hoje, celulares bons e facilidade para fazer registros. Mas, farei o possível para conseguir mostrar da melhor maneira essa experiência inesquecível.

Aconteceu em 2009, morava em Cusco (Peru) e o “bichinho viajante” já tinha me picado. Já sabia que dava para viajar de ônibus pra outros países da América do Sul (tinha me aventurado no trajeto Cusco- La Paz), então fui atrás de outros lugares que pudesse conhecer por terra. Morar em Cusco significa conhecer pessoas de todas as partes do mundo, pessoas que “vivem da viagem”, mochileiros loucos, pessoas que juntam dinheiro por anos e caem no mundo sem data pra voltar pra casa. Foi em uma das minhas conversas em um hostel, bebendo rum com meus amigos (lá se bebe rum como se bebe cerveja aqui no Brasil e eu tive que me acostumar com isso) que conheci um coreano (não lembro o nome dele nem a pau!) que tinha uns vinte e poucos anos, estava viajando por aí há anos e estava indo morar em Quito, no Equador, naquela semana. Ele me convidou para passar uma temporada por lá, disse que tinha muitos amigos em Quito, que todos moravam no mesmo apartamento/hostel há oito anos e falavam espanhol (graças a Deus falavam espanhol..rs).

Passei umas três semanas juntando uma graninha (dava aulas de samba e fazia meus bicos em Cusco) e resolvi ir. Era pra ter ficado uns dez dias, mas acabei ficando dois meses. Praticamente morei lá (rs)! Passou de dois meses já considero moradia (rs). Acho que mais de um mês e meio em um lugar posso dizer morar, certo?! Fui pra Quito sem ao menos saber o que tinha de bom, mas sabia que ia ser legal. Meu espanhol já estava muito bom, deu pra me virar bem. 

Viajar de ônibus do Peru ao Equador não é pra todo mundo, já vou avisando. Vocêd viajantes, mochileiros, turistas que querem economizar em uma viagem ou até mesmo se aventurar como eu, devem estar cientes que isso exige muita disposição e bom humor!! É cansativo, demanda tempo e paciência. No entanto, como quase tudo na vida, tem também o lado bom da coisa. Fazer grandes viagens de ônibus propicia descobertas e experiências que não acontecem quando estamos sentadinhos esperando um comissário de bordo nos trazer a comidinha quentinha na mão.


Viagem “quase infinita” - rumo a Quito


São 46 horas, 2944 km. Tá bom pra vocês? Dois dias de viagem, dois dias sem tomar banho. Isso mesmo, dois dias sem tomar banho. Dando um jeitinho ali, uma “lavadinha” aqui, tudo durante as poucas paradas que fazíamos para irmos ao banheiro e esticarmos as pernas. Não consigo lembrar detalhes de como foi o trajeto até a fronteira do Equador. Peguei ônibus de linha comum, fui parando, pegando outro, outro. Uns horríveis, outros mais ainda. Motoristas sempre com pressa (rs). 

Cheguei ao Equador um pouco doente porque no Peru estava fazendo um frio absurdo e fui enfrentando todos os tipos de temperatura no caminho, me trocando dentro dos ônibus e Quito me recebeu com uma temperatura na casa dos 38 graus. Haja saúde!!! Na verdade, o que me prejudicou mais do que qualquer coisa foi a mala que eu resolvi levar. Uma grandona, de 32 kg e mais mochilinha, mochilão, bolsa, bolsinha, etc. Pra que tudo isso?? Talvez porque não sabia quanto tempo ficaria? Não sei, mas pra carregar tudo isso, tirar e colocar nos ônibus foi a parte mais cansativa da viagem. 

Cuidar das malas, ficar atenta para não ser roubada e confiar nas pessoas para me ajudar a carregar me tirou a paciência. Cheguei em Quito com a sensação que tivesse chegado no Japão! Como eu queria que naquela época existisse Insta, Fb, celular bom pra fazer fotos e vídeos, teria registros sensacionais!! Mas, pelo menos tenho uma boa memória..(rs) :(

Uma dica: Não levem muita bagagem caso vocês façam uma viagem como essa. Sério, não caiam nessa besteira por mais que vocês sejam vaidosos como eu e queiram ter uma roupa para cada dia. Desencana, repete roupa, faz qualquer coisa, mas fiquem com a sua coluna inteira que é o mais importante!


Imigração e a chegada em Quito


Cheguei na fronteira (cidade de Tumbes) e fiz o trâmite de saída do Peru. A fronteira de Tumbes é considerada em muitos guias a mais perigosa da América do Sul. Legal, né?! Só fui saber disso depois de alguns meses, portanto eu criei esse blog, para dar dicas como essa (rs). 

Na verdade, preenchi a tarjeta andina de imigração e em meia hora tinha o passaporte carimbado. Não tive nenhum problema na ida (na volta tive sim, mas conto daqui a pouco o que aconteceu). Claro que quem é mulher precisa ser “espertinha”, não cair na graça de homens maliciosos, não dar atenção aqueles que querem ajudar a carregar suas malas em troca de dinheiro, que te oferecem carona, etc. Isso não é somente em uma fronteira e sim em qualquer lugar do mundo, até mesmo em São Paulo. Costumo dizer que a mulher precisa ser “malandra” até na rua de casa, ainda mais vivendo no Brasil. Não tenho medo dessas coisas, mas precisamos andar sempre com os olhos bem abertos.


Segunda parte da viagem- da fronteira até Quito


Estava no Equador, em Huajilllas, e precisava chegar em Quito. Mais 576 km, nove horas de viagem. Esse trajeto lembro bem porque tenho certeza que aquele motorista tinha algum problema na cabeça. Foram as nove horas mais tensas da minha vida em um ônibus caindo aos pedaços em uma velocidade que eu só não fugi pela janela porque não teria outro jeito de chegar no meu destino final. Viajei durante a noite, não dormi um minuto, um calor insuportável e uma gripe forte. Várias vezes pensei: “o que estou fazendo aqui?” Até umas lágrimas rolaram, mas precisava cumprir mais essa “missão”. Depois desse trajeto todo peguei um táxi para chegar até a casa onde me hospedei por pouco mais de dois meses. Finalmente estava em Quito.
Estadia em Quito e meu dia a dia vivendo com oito coreanos


Morar esse tempinho em Quito foi uma das aventuras mais loucas da minha vida. Começando pela moeda deles: dólar! Estranho, né? Pois é, desde 2000 o Equador assumiu o dólar americano como moeda corrente, graças a uma crise político-econômica enfrentada no final da década de 90 que desvalorizou o Sucre, antiga moeda deles. 
Enfim, o apartamento que vou chamar de hostel era lindo. O dono (um senhor coreano, mas que bebia mais do que qualquer adolescente) morava no Equador há oito anos e como o espaço era enorme, com cinco quartos, ele resolveu alugar por um preço de hostel para os coreanos que fossem passar uma temporada em Quito. Eu fui uma exceção. Me aceitara porque aquele meu colega que conheci no Peru acabou convencendo o proprietário.



Meu quartinho <3


Aparelhinho que esquentava minha cama e me salvava das noites frias de Quito


Compartilho um pouco do que tinha na geladeira da minha casa (rs)


Estava no Equador, mas era como se vivesse na Coréia (rs)

Viver com oito coreanos (teve uma semana que tinham 12 dormindo no apartamento) na mesma casa é receber, de uma vez só, uma enxurrada de conhecimento, absorver e viver a cultura mesmo que na marra, dar muita risada, conhecer coisas que jamais imaginei que existia e se sentir perdida também (rs). Digo isso por vários motivos e os principais talvez seja o fato de não comer peixe e não entender uma palavras que eles falavam quando resolviam deixar o espanhol de lado e conversar entre eles.
A comida era o principal, acredito que a mais apimentada do mundo, que quando você engole dá até uma dor no peito (rs)! Voltei do equador quase sete quilos mais gorda porque só comia pão. Pão e miojo. Não cozinhava nada na época e ficava com vergonha de cozinhar só pra mim e “desprezar” a comida que eles faziam para todos, então vivia fazendo lanches. Naquela casa era a mesma comida todo dia, aquele cheiro de peixe logo cedo embrulhava o estômago ainda na cama (o cheiro devia entrar por baixo da minha porta). O café da manhã era exatamente igual o almoço, sem chance.


Se deixarmos a parte da alimentação de lado, posso dizer que me diverti muito com esse pessoal! Não sabia que os coreanos eram tão festeiros. Todo dia festa! Tinha um karaokê montado na sala e toda noite tinha festa. Cantavam até o amanhecer, bebiam whisky puro e davam risada como loucos. Ah, esqueci de falar que dormir era algo meio difícil também em meio a tanta festa. Mas, no final levava tudo na brincadeira. Eles eram muito gentis e me tratavam super bem, só me irritavam quando resolviam falar no idioma deles, me deixavam sem entender absolutamente nada e eu sempre achava que estavam falando mal de mim (rs). 



Essa aparelhagem toda ficava ao lado do meu quarto. Juro que foram muitas noites sem dormir! (rs)


Eu lembro que essa pessoa era um cantor quase profissional, cantava todos os dias na porta do meu quarto (rs)!


Todo dia festa, todo dia festa...(rs)


Quando você não sabe se foge, canta junto, tenta dormir ou joga o ser humano pela janela (rs)!

Não posso deixar de escrever que nessa viagem conheci uma coreana (que por incrível que pareça atendia pelo nome de Glória), que estava hospedada no mesmo apartamento que eu. Ela estava viajando pela América do Sul há dez meses e quando voltei ao Brasil foi me visitar e passou uma semana muito divertida na minha casa. São as vantagens de viver fora do país, ter oportunidade de fazer intercâmbios como esse. 
Onde passear em Quito?
Além da grande surpresa de conhecer profundamente a cultura coreana que eu não tinha nem ideia de como era e viver o dia a dia do lugar como se fosse uma nativa, Quito foi um país que me surpreendeu pelas suas belezas. O Equador é pouco divulgado por agências e pela mídia e não é um país muito visitado por brasileiros. Não entendo o porquê! Há lugares incríveis para serem visitados. Em dois meses consegui conhecer vários lugares, mas ainda faltou muita coisa para visitar! Passear em Quito foi um prazer, principalmente ao lado de “guias” como meus parceiros coreanos que já conheciam tudo por lá.
Selecionei alguns lugares que gostei, fora os 200 restaurantes orientais que os coreanos me fizeram experimentar nesse período mesmo sem poder sentir cheiro de peixe (rs). Aliás, lembro que me levaram em um restaurante coreano super chique para me dar boas-vindas no dia que cheguei e queriam que eu comesse pato de qualquer jeito. Não, eu não comi. E morri de vergonha porque não comia nada que me ofereciam e o jantar era pra mim! Enfim, tive que sair dessa sem parecer antipática (rs).
· Mariscal: é o bairro gastronômico e boêmio da capital equatoriana, fica perto do centro. É uma área agradável com construções baixas, ruas estreitas e cheias de árvores. Há uma grande concentração de bares, restaurantes, cafés e hostels que faz do local um ponto de encontro para viajantes. Eu frequentava bastante esse lugar e conheci pessoas muito especiais de várias partes do mundo.



Centro histórico de Quito: recomendo bater perna, conhecer toda essa parte a pé. Na minha opinião, é um dos centros mais preservados da América do Sul. Foi declarado pela UNESCO o primeiro Patrimônio Cultural da Humanidade em 1978. Dica: se tiver tempo, aproveite para conhecer a Calle de La Ronda, a Plaza Grande, a Plaza del Teatro, a Plaza de La Independencia, a Basilica del Voto Nacional, a Iglesia de La Compania de Jesus e a Plaza de San Francisco (+Iglesia de San Francisco).


Basilica del Voto Nacional







Plaza de la Independencia

·Experimente o Catzo Blanco: é um besouro muito apreciado na culinária equatoriana. Se eu experimentei? Jamais! Nunquinha! Mas, não posso deixar de escrever sobre isso porque muitas pessoas me ofereceram e acho que existem turistas que não são frescos como eu (rs). Tenho coragem de arriscar a vida em viagens, mas não sou capaz de engolir um besouro (rs)! Pelo que fiquei sabendo, na época das chuvas ele é facilmente encontrado em feiras populares de Quito. Tem todo um preparo, eu vi!: os insetos são colocados vivos em um recipiente com farinha de trigo, onde se alimentam dela durante algumas horas. Depois têm suas asas e patas arrancadas e são colocados em uma solução com água e sal por alguns dias. Após esse processo os Catzos são fritos em manteiga até ficarem crocantes e são vendidos em sacos plásticos. Os corajosos comem junto com grãos de milho tostado e dizem que é uma delícia. Boa sorte!



Um dia no Parque Nacional Cotopaxi- conhecendo o Vulcão


Até viver em Quito, não tinha ideia que tinha um vulcão ativo no Equador, o Cotopaxi. Ele tem 5.897 metros de altitude e fica apenas a 75 Km de Quito, no Parque Nacional Cotopaxi. É o segundo vulcão mais alto do Equador. Há excursões que permitem que você passe uma noite toda hospedado na base dele. Eu passei somente o dia, fui de carro com a minha “família coreana”. Também é possível ir de ônibus por conta própria. Estava um frio i-n-s-u-p-o-r-t-á-v-e-l, então prepare-se! No inverno a temperatura no local pode chegar a dez graus negativos, por isso, se for se aventurar por lá, é importante que tenha roupas e equipamentos especiais.
A subida até a base que está a 4.800 metros de altitude é considerada de nível leve para montanhistas, mas não estávamos com roupas e calçados apropriados, não aguentamos o frio, então subimos somente uma partezinha para tirar fotos. Na verdade, com meu preparo físico talvez nem conseguisse escalar aquilo tudo mesmo que fosse verão (rs)! 
Dizem que o melhor período do dia para visitar o Cotopaxi é pela manhã, pois tem mais chance do céu estar aberto. Mas, nós começamos o tour cedinho e não vimos muito pouco. Deixamos de aproveitar por causa do mau tempo, muita neblina e um frio de doer. Como já comentei, na época fomos por conta própria. Parece que hoje em dia o governo exige que estrangeiros visitem o local acompanhados de um guia local, o que deixa claro que querem ganhar dinheiro, pois o parque tem uma estrada única, muito bem asfaltada, e não oferece risco algum (a não ser de erupção, e vamos combinar que se isso acontecer o guia vai ser o primeiro a sair correndo!). Vale colher informações sobre as novas regras antes de planejar essa visita e reserve pelo menos umas 3 a 4 horas do seu dia para isso.



Sobre uma coreana tentando tirar foto de uma planta

















Detalhe da minha bota de plataforma, super própria para "escalar um vulcão"(rs). Essa da foto é a Glória :)







Termas Papallacta: são um conjunto de fontes de águas termais de origem vulcânica localizado a cerca de 75 quilômetros a sudeste de Quito. Ela fica já nos limites da Amazônia Equatoriana. As fontes estão no centro de uma cratera de um vulcão extinto, mas que ainda conserva quantidade de calor suficiente para manter aquecidas as fontes de água em seu entorno. O resultado disso é um balneário incrível que eu tive a oportunidade de desfrutar. Além do balneário, o local conta com hotel, Spa e restaurantes. Ë um local bem frequentado por turistas, que antes de viver no Equador jamais imaginava que existia. São diversos tipos de fontes com várias temperaturas. Passei a tarde inteira relaxando em meio as montanhas.




Como isso foi em 2009 acredito que os preços já tenham subido!






A caminho das Termas, antes de adquirir sete quilinhos (rs)





Quase uma coreana (rs)


·Mercado de Otavalo: Otavalo está ao norte do Equador, a 95 km de Quito. Fomos de carro, mas sei que há ônibus que saem com frequência e levam duas horas para chegar lá. É nessa cidade que vocês encontram a maior feira ao ar livre da América Latina. Eu amo feiras! Costumo comprar as lembrancinhas para os amigos e as coisinhas que levo de recordação em locais como esse, pois são artigos feitos pelos nativos que transmitem a verdadeira cultura do país, além de serem mais baratos do que nas lojas.
A feira fica Plaza de los Ponchos. O centro comercial funciona todos os dias, mas é aos sábados que fica lotado e recebe centenas de pessoas que expõe seus produtos. Multicolorida, ela é composta principalmente por vendedores indígenas e mestiços. Você encontra de tudo! Roupas feitas com lã de lhama e alpaca, chapéus, xales, cachecóis, luvas, gorros, colchas, peças em madeira, esculturas com pedras vulcânicas, vasos, quadros, acessórios, tudo feito com muito carinho e rico em detalhes. As pinturas feitas à mão que lembram pontos turísticos do Equador e instrumentos musicais usados pelos nativos são incríveis. 
Dica: pechinche! Peça para o vendedor baixar o preço, não só nessa feira, mas em todas as outras que você visitar pelo mundo afora. Convença o comerciante que o preço está muito alto e conseguirá graaaaaandes descontos.












Passeio de teleférico: Conhecer Quito de cima pode ser algo bem interessante. Eu sempre procuro algo que dê aquele friozinho na barriga. É uma das atrações mais famosas da cidade e está sempre bem cheia, então se puder evitar os finais de semana é melhor. O teleférico acomoda seis pessoas por vez e leva os visitantes até o Morro Cruz Loma. O percurso é bem tranquilo e renderia fotos lindas se não fosse a cor dos vidros das janelas que as deixaram horríveis. O jeito é esquecer as selfies (que naquela época nem existiam) e se preocupar com a vista linda. Chegando lá em cima, com sorte, você vai ter uma bela vista das montanhas e da cidade como um todo. O ingresso custa cerca de nove dólares.
Não deixe de conhecer a Metade do Mundo!
Quito está localizada muito próxima à latitude 0°. A linha do Equador, que divide o mundo em hemisfério norte e sul, passa a poucos quilômetros da cidade. Devido à importância desse linha imaginária foi construído um monumento que veio a dar origem à chamada Cidade Metade do Mundo. O local é um dos mais importantes pontos turísticos de Quito e faz parte do roteiro de todo turista que visita a capital equatoriana. Eu nunca tinha ouvido falar sobre isso até chegar no Equador. Como você pode perceber, não conhecia praticamente nada desse país e sou grata até hoje por ter tido a oportunidade de viajar pra lá.
Fui e adorei. A chamada Mitad del Mundo (Metade do Mundo) é uma grande praça localizada no norte de Quito, onde há um monumento e uma linha traçada representando a latitude zero, ou seja, a linha do Equador. Além do monumento, há um pequeno museu de ciência, alguns restaurantes, um planetário e salas mostrando um pouco do Equador e da França (país responsável pelos experimentos na região).


Uma curiosidade que poucos sabem (fiquei sabendo bem depois da visita porque as pessoas no local não ficam divulgando aos turistas) é que a linha do Equador não passa exatamente onde está o monumento, mas a alguns metros dali. Este foi o ponto encontrado por uns pesquisadores franceses, mas um GPS de precisão militar mostrou o erro. Se quiser ver a linha de verdade, é preciso seguir um pouco mais adiante e ir ao museu Inti Ñan. Lá, sim, todos os experimentos funcionarão. 


O Museu, parte mais legal do passeio


O museu foi criado exatamente sobre a linha do equador verdadeira. Lá também se conta um pouco da história do país e do cacau. Foi um dos museus mais bacanas que conheci até hoje. Em um dos pontos do passeio, podemos ver umas cabeças em miniatura. Os guias contaram que isso fazia parte do costume de uma das tribos indígenas da Amazônia: eles cortavam a cabeça da pessoa, retiravam o osso do crânio, secavam a carne e a enchiam com pedra. Com isso, tinham um talismã de uma cabeça em miniatura, que encolhia depois de seca. Esse método era usado tanto com a cabeça dos inimigos quanto com a das pessoas da própria tribo. Se fosse dos inimigos, as cabeças serviriam como adorno de suas armas. No caso de familiares, como colares. Louco, não? Pura cultura.

No local também há uma casa indígena que foi construída pelos próprios índios, o Museu do Cacau e os sensacionais experimentos da linha equatorial que foi a parte que eu mais gostei de todo o passeio. Observar como a água descendo pelo ralo gira no sentido horário no hemisfério sul, no sentido anti-horário no norte e simplesmente não gira sobre a linha do equador, equilibrar um ovo sobre a cabeça de um prego na linha equatorial com direito a certificado para quem conseguisse e testes de equilíbrio e força no centro do mundo não tem preço. E pasme, todos os experimentos que fiz funcionaram! Era impressionante ver os resultados diferentes caminhando poucos metros de um lado para o outro. Não deixe de visitar esse lugar quando estiver no Equador. Muitas agências fazem tour, mas se quiser ir por conta própria também é possível. A entrada da Praça gira em torno de 7,50 dólares e a do museu quatro dólares. 




Meu colega coreano, que conheci no Peru e "me arrastou para o Equador" :)










Alimentação e nightlife em Quito


Fica difícil, na situação que vivi na época, falar sobre a culinária equatoriana. Não como quase nada, não curto carnes e vivi mais de dois meses com oito coreanos que só comiam pratos típicos da Coreia. Quase não via a cara de outro tipo de comida (rs). Mas, posso contar um pouco sobre qual a impressão que tive das poucas coisas que experimentei ou que ouvi falar que valem a pena provar. Muitos amigos que comem de tudo e viajam muito dizem que a cidade ainda não desenvolveu uma gastronomia muito empolgante como em outras cidades da América do Sul (Buenos Aires, Lima e até São Paulo). Onde comer em Quito acaba não importando tanto para os turistas.

Pude observar que um refeição típica em Quito é o locro de papas, uma sopa de batatas acompanhada por milho e abacate. Como prato principal, eles costumam comer bastante o chamaso seco de chivo que é um guisado de carne de cabrito. Os sorvetes artesanais e a compota de figo são sobremesas bem tradicionais. Para tomar, gostei bastante do suco de guanamora, uma mistura de amora e graviola. Ah, não poderia deixar de comentar sobre os chips de banana e batata-doce temperados com o famoso ají.



Chips de banana. Simplesmente amo! Ainda bem que não tem aqui no Brasil (rs)


Sobre a vida noturna, há bares e baladas que tocam todos os ritmos, em especial música latina. Como amo dança procurava locais que tocavam esse tipo de música. Por incrível que pareça, meus amigos coreanos também curtiam e alguns deles até dançavam bem! Quanta saudade que dá de tudo isso! :)



Preste atenção no meu look (rs). Quase uma equatoriana...




De volta pra casa/Cusco 


A viagem de volta pra Cusco foi como a ida, cansativa. Fiquei “presa” na fronteira por mais de três horas porque simplesmente desconfiaram de mim. Foi a segunda vez que passei por essa saia justa, fui barrada na fronteira da Bolívia com o Peru. Se quiser saber como foi essa aventuram, clique aqui e leia o post da minha aventura para chegar em La Paz, na Bolívia.

Enfim, na ida ao Equador apresentei a imigração o meu RG (não é necessário passaporte), mas na volta lembrei da possibilidade de carimbá-lo, coisa de viajante que gosta de colecionar carimbos de entrada e saída dos países que visita. Por isso, dei o passaporte ao policial e ele não encontrou o registro da entrada. Óbvio que não encontraria. Não imaginei o problema que isso me daria. Como explicar a ele que entrei com RG, mas quis passar com passaporte na volta por causa de um carimbo? Conclusão, não acreditou em mim e fui encaminhada para salinha onde ficam os turistas que estão com algum problema na documentação. Tive que responder umas 30 perguntas, convencer o policial que era uma simples estudante em busca de aventuras e consegui ser liberada. Tomei uma canseira por pura inexperiência, então fica mais uma dica.

No final das contas cheguei em Cusco viva!! Apesar de ter sido uma viagem super cansativa e ter pensado em desistir muitas vezes no meio do caminho, valeu demais! Amadureci muito, me tornei mais corajosa, independente, me superei, senti orgulho de ter enfrentado tantos perrengues desde a alimentação, cultura, trajeto de ônibus, imigração..tudo! Me senti surpresa comigo mesma. Mais uma missão cumprida.

Gostaram do post? Dúvidas? Deixem comentários! Beijinhos :)

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