Voluntariando na Grécia
Olá, gente! Hoje eu vou compartilhar com vocês minha experiência como voluntária em campos de
refugiados na Grécia! Espero que gostem e que sirva de incentivo para todas as
pessoas que pensam voluntariar fora do Brasil.
A família afegã que se tornou minha família
A decisão
de ir para a Europa partiu do reconhecimento do fato de o mundo estar diante da
maior crise de refugiados depois da Segunda Guerra Mundial, das minhas
experiências adquiridas como voluntária com essas famílias que chegam ao Brasil
em busca de paz e do meu trabalho no Haiti em julho de 2016, com crianças órfãs
que vivem em uma situação subumana. Senti que precisava, mais uma vez, sair do
meu país buscando conhecer melhor e vivenciar essa triste realidade. Sendo
jornalista, “sujar os sapatos”, viver a situação, estudar e conhecer mais sobre
determinado assunto fazem parte da minha profissão.
Trabalhei como repórter policial de TV por três anos, e isso me encorajou a estar no local no momento em que as coisas acontecem, para poder transmitir aquilo que vi com os meus próprios olhos.
Tinha uns dias de férias vencidos, contatei uma ONG espanhola que trabalha em parceria com voluntários na Grécia (SOS Refugiados) e envia doações da Espanha aos refugiados que vivem em Atenas e diversas ilhas gregas. O coordenador avaliou meu histórico como voluntária e fui convidada a fazer parte da equipe. Abracei a ideia. Poderia ter escolhido me aproximar de outras realidades delicadas, como as do Líbano e Turquia, mas achei a Grécia mais viável devido ao idioma (podia me comunicar usando o inglês com os gregos e espanhol com alguns voluntários). Além disso, me tocou saber que hoje são praticamente 57 mil imigrantes que entraram no território grego de forma ilegal. A Grécia é usada como ponto de passagem para milhares de pessoas que tentam alcançar o Norte da Europa, através da travessia do Mediterrâneo ou via terrestre pela Turquia, para sobreviverem à miséria, à guerra e às perseguições políticas e religiosas. É uma aventura quase que obrigatória dessas pessoas que buscam um futuro digno.
Trabalhei como repórter policial de TV por três anos, e isso me encorajou a estar no local no momento em que as coisas acontecem, para poder transmitir aquilo que vi com os meus próprios olhos.
Tinha uns dias de férias vencidos, contatei uma ONG espanhola que trabalha em parceria com voluntários na Grécia (SOS Refugiados) e envia doações da Espanha aos refugiados que vivem em Atenas e diversas ilhas gregas. O coordenador avaliou meu histórico como voluntária e fui convidada a fazer parte da equipe. Abracei a ideia. Poderia ter escolhido me aproximar de outras realidades delicadas, como as do Líbano e Turquia, mas achei a Grécia mais viável devido ao idioma (podia me comunicar usando o inglês com os gregos e espanhol com alguns voluntários). Além disso, me tocou saber que hoje são praticamente 57 mil imigrantes que entraram no território grego de forma ilegal. A Grécia é usada como ponto de passagem para milhares de pessoas que tentam alcançar o Norte da Europa, através da travessia do Mediterrâneo ou via terrestre pela Turquia, para sobreviverem à miséria, à guerra e às perseguições políticas e religiosas. É uma aventura quase que obrigatória dessas pessoas que buscam um futuro digno.
Passei 24 dias
em Atenas, capital da Grécia, ao lado de sírios, iraquianos, iranianos,
paquistaneses e afegãos, ajudando de todas as formas que podia e consegui
entender a crise humanitária pela visão de um verdadeiro refugiado. Achei que
os imigrantes fossem de maioria síria, mas me surpreendi com tantas famílias
afegãs, que fugiram com medo de serem mortas pelo grupo extremista Talibã.
Apesar da parceria com a ONG, o trabalho é bem independente. Há duas opções: estar no armazém, local onde são estocadas e triadas todas as doações que chegam dos países europeus, ou trabalhar nos squads, que são as ocupações não reconhecidas pelo governo grego que abrigam milhares de refugiados.
Esperando o bondinho para ir ao trabalho e quase sendo atropelado por ele (rs)
Quanta saudade da minha pequena afegã Satesh
Apesar da parceria com a ONG, o trabalho é bem independente. Há duas opções: estar no armazém, local onde são estocadas e triadas todas as doações que chegam dos países europeus, ou trabalhar nos squads, que são as ocupações não reconhecidas pelo governo grego que abrigam milhares de refugiados.
Armazém onde ficam estocadas todas as doações que chegam de outros países europeus
City Plaza Hotel: hotel abandonado onde vivem famílias refugiadas que ocuparam o local
Visitei
somente um acampamento oficial, onde os imigrantes vivem em barracas e são
mantidos pelo governo grego com um pequeno apoio da Acnur, agência da ONU para
refugiados. Esse acampamento é o antigo estádio de beisebol que foi palco das
Olimpíadas de 2004.
No velho campo de jogo, as famílias conseguem alguns poucos metros quadrados para viverem… ou melhor, sobreviverem. O estádio abandonado faz parte do Campo de Elliniko, um complexo supervisionado pelo governo. A entrada de estranhos não é permitida, mas consegui visitar o acompamento. O pouco tempo em que estive no local foi suficiente para classificar a situação como deplorável.
Além dos imigrantes que vivem em instalações olímpicas, há centenas deles em um aeroporto internacional abandonado próximo ao estádio. Lá, os avisos ainda mostram os horários de voos para vários destinos europeus, uma ironia e tanto.
Dentro desse complexo também fica o Armazém, que é um prédio cedido pelo governo para que as doações pudessem ser estocadas. Nos meus últimos dias na Grécia, recebi a notícia de que o complexo foi vendido, e que os refugiados seriam levados para outros locais. Estou na torcida para que sejam lugares no mínimo dignos de viver. Além disso, os responsáveis pelo armazém já estão à procura de outro espaço.
No velho campo de jogo, as famílias conseguem alguns poucos metros quadrados para viverem… ou melhor, sobreviverem. O estádio abandonado faz parte do Campo de Elliniko, um complexo supervisionado pelo governo. A entrada de estranhos não é permitida, mas consegui visitar o acompamento. O pouco tempo em que estive no local foi suficiente para classificar a situação como deplorável.
Além dos imigrantes que vivem em instalações olímpicas, há centenas deles em um aeroporto internacional abandonado próximo ao estádio. Lá, os avisos ainda mostram os horários de voos para vários destinos europeus, uma ironia e tanto.
Estádio de beisebol que foi palco das Olimpíadas
Dentro desse complexo também fica o Armazém, que é um prédio cedido pelo governo para que as doações pudessem ser estocadas. Nos meus últimos dias na Grécia, recebi a notícia de que o complexo foi vendido, e que os refugiados seriam levados para outros locais. Estou na torcida para que sejam lugares no mínimo dignos de viver. Além disso, os responsáveis pelo armazém já estão à procura de outro espaço.
Armazém
Em relação aos
squads, é difícil precisar quantos deles há espalhados por Atenas, mas pelo
menos treze são mantidos pelas doações desse armazém principal, que
semanalmente recebe toneladas de roupas, calçados, alimentos, produtos de
higiene, fraldas, roupas de cama, brinquedos, entre outras coisas, principalmente
vindos da Espanha.
Conta com voluntários de todas as partes do mundo,
que passam algumas horas por dia fazendo a triagem rigorosa de tudo que chega
para ser distribuído entre as famílias. É um trabalho intenso, e as pessoas que
cedem seu tempo são de fundamental importância. Sem eles, não seria possível
fazer essas doações chegarem aos seus destinos finais.
Trabalho no Armazém
As comidas eram triadas e retirávamos tudo que estava vencido
Lista que recebíamos com os produtos que cada Squad necessitava
Cantinho bizarro onde deixávamos as doações mais loucas e incompreensíveis (rs)
Brasil, Hong Kong, França e Espanha unidos pela mesma causa
Primeira brasileira no Armazém
Primeira brasileira no Armazém
Em algumas
semanas há muita gente trabalhando. Em outras quase ninguém. E isso acaba
atrapalhando. É um problema grave e para o qual não existe solução imediata, já
que ninguém que presta serviço é fixo ou recebe qualquer assistência
financeira. Fui a primeira brasileira voluntária no armazém, que funciona desde
setembro de 2015. Em alguns dias da semana me dedicava a esse trabalho, que,
apesar de pesado, era extremamente gratificante. Me impressionou a quantidade
de doações, não fazia ideia da magnitude. As tarefas são bem divididas e
organizadas.
Não posso
deixar de falar aqui da Larissa, uma brasileira que estava vivendo na Grécia e
conheci dentro do ônibus, quando fui pedir uma informação. Conversamos, contei
do trabalho que estava realizando. Ela se interessou e abraçou a causa comigo.
No período que estive em Atenas também trabalhou como voluntária, algo que nunca tinha feito. Hoje, somos muito amigas. Hoje ela mora em Barcelona e se sente agradecida por eu ter apresentado pra ela “ esse novo mundo”. Esses dias do lado da Larissa foram muito especiais, aprendi muito e ela me ajudou demais e é uma amizade que com certeza levarei para a vida toda!!
Carro sendo carregado de doações para serem distribuídas
Amizade na Grécia
No período que estive em Atenas também trabalhou como voluntária, algo que nunca tinha feito. Hoje, somos muito amigas. Hoje ela mora em Barcelona e se sente agradecida por eu ter apresentado pra ela “ esse novo mundo”. Esses dias do lado da Larissa foram muito especiais, aprendi muito e ela me ajudou demais e é uma amizade que com certeza levarei para a vida toda!!
Eu e a minha parceira Larissa
Trabalhando com as crianças no Squad City Plaza Hotel
Um pouquinho mais sobre o Armazém
Mas, voltando
ao trabalho no Armazém, recebíamos listas das necessidades de cada squad.
Alguns voluntários separam a comida, outros as roupas que chegam, outros tiram
os alimentos vencidos (infelizmente chegam muitos produtos fora do prazo de
validade, e é claro que não podem ser doados), outros encaixotam, etiquetam.
É
um trabalho em grupo que funciona muito bem. Muita coisa nova, com etiqueta,
sem uso, isso me emocionava demais. Fui muito bem tratada, troquei experiências
com pessoas de mais de dez países e tínhamos até almoço no local. Enfim, um
trabalho crucial, que está por trás de toda essa problemática e poucos conhecem.
No final do post vou deixar dois links para que vocês possam ler matérias que foram publicadas sobre o meu trabalho como voluntária em Atenas.
Trabalho nos Squads/ Campos de refugiados
Passei a maior
parte do tempo trabalhando nos Squads. Sou apaixonada por crianças e queria
ter um contato próximo com as famílias. Conheci quatro delas, mas dediquei boa
parte dos meus dias no City Plaza Hotel, onde vivem cerca de 350 refugiados que
ocuparam há mais ou menos um ano e meio o antigo hotel localizado próximo ao
centro de Atenas.
Não existe um coordenador, o local é organizado e
administrado por voluntários que desenvolvem seus projetos, voltam aos seus
países e dão lugar a outros que chegam. Alguns deles moram na ocupação e se
dedicam integralmente, todos os dias da semana. São praticamente 70 crianças
que vivem no local e participam de atividades, como aulas de idiomas, futebol,
passeios em parques e praias, e aulas de desenho e pintura. Há também
atividades para adultos e uma sala cheia de jogos e brinquedos conhecida como
Children Area (área das crianças) que é aberta diariamente para que elas possam
se divertir por algumas horas.
Domingo de praia dos voluntários com as famílias refugiadas
Programação da semana feita por voluntários para ser desenvolvida com as famílias
Hall do City Plaza Hotel
Brincando de médico com a afegã Sarah <3
From Iraq
Voluntário israelense se divertindo com as crianças
Dia de cineminha com as crianças
Domingo no parque com as crianças
Unhas feitas pela tia Alethea
Me surpreendi
com a quantidade de crianças que já falam inglês somente pela convivência com
os voluntários. Esse squad é considerado um dos mais organizados e limpos.
Outros que visitei nem sequer contavam com camas. Alguns deles são antigas
escolas e as salas de aulas se tornaram quartos, separados por lençóis. Triste
de ver. Alguns não recebem voluntários, ou alguns deles aparecem somente para
realizarem atividades pontuais, então falta organização. Organizar essas
ocupações e mantê-las limpas é um grande desafio. Todos os moradores vivem de
doações e poucas crianças estudam. Alguns pais optam por não colocá-las na
escola, e a principal justificativa é que eles não pretendem ficar no país,
apesar de as fronteiras estarem fechadas por tempo indeterminado. Outra
situação recorrente é a quantidade de mulheres grávidas. Muitas dizem que podem
conseguir o visto no país com mais facilidade caso tenham filhos nascidos na
Grécia.
Abaixo algumas fotos do Squad 5th School, uma escola abandonada que foi ocupada por centenas de refugiados (quase todos sírios) que dividem as antigas salas de aula e fazem das mesmas moradias. Muito triste de ver!
Abaixo algumas fotos do Squad 5th School, uma escola abandonada que foi ocupada por centenas de refugiados (quase todos sírios) que dividem as antigas salas de aula e fazem das mesmas moradias. Muito triste de ver!
Aula de Yoga com as crianças
Eu, a Lari e a Dani (indiana) em uma tarde de recreação com as crianças
Amavam passar as minhas maquiagens
Baby síria com o vestidinho que eu levei do Brasil, doado por uma colega minha
Qual será o futuro dessas famílias?
A Grécia está
dificultando a regularização das famílias, por isso praticamente ninguém
trabalha. Além disso, o país enfrenta uma das piores crises da sua história e o
índice de desemprego entre os jovens gregos chega a 50%. Sem dinheiro, o
governo grego diz não conseguir conter sozinho o chamado “caos migratório”. Só o tempo em que estive lá presenciei pelo menos sete protestos, greves de
ônibus e metrô, além notar claramente que a cidade parece um lugar esquecido
pelo governo. Conversando com um grego, me chamou atenção quando ele disse:
“não temos dinheiro nem pra pintar as faixas de pedestres que estão apagadas”.
E ele não estava brincando. É difícil encontrar uma rua em que seja possível
identificar o local correto para atravessar. O senhor que estava sentado ao meu
lado no metrô tem razão, a situação econômica da Grécia é complicada.
Sendo assim, é
quase impossível prever como será o futuro dessas famílias que não conseguem
recomeçar suas vidas e nem podem seguir rumo a outro país. A Grécia, que era
apenas um ponto de travessia para os refugiados que tinham a esperança de
chegar ao norte europeu, se tornou a casa de milhares deles, sem que imaginassem
que isso fosse acontecer. A maioria quer chegar à Alemanha, por seu um país
desenvolvido, especialmente, para reencontrar amigos e parentes que imigraram
anteriormente. É normal as famílias estarem separadas, cada um foge para onde
dá, para onde consegue chegar e para onde cabe no bolso. A única maneira de
sair do país é por meio da “ajuda” da máfia. Três famílias me contaram que os
coiotes pedem 5 mil euros por pessoa para levá-las até a Alemanha.
Muitas
famílias relataram a dificuldade para conseguir chegar à Grécia e como foi
deprimente ter que vender tudo que demoraram a vida inteira para conquistar
para pagar essa travessia ilegal e hoje não têm um euro dentro da carteira
(muitos deles nem carteira têm). Alguns refugiados já aceitam a vida no país e
tentam se regularizar para recomeçar do zero. Outros esperam a oportunidade de
conseguir fugir para encontrar o resto da família e tentar a vida longe dali.
Uma espera que não tem prazo para terminar.
Cada dia uma
lição de vida. Comíamos juntos, brincávamos juntos e, apesar de faltar tudo,
cada visita em um dos quartos do antigo hotel era recebida com muito amor e uma
xícara de chá. Muitas vezes tive que engolir o choro, outras vezes me divertia
com as crianças e ria muito, mas nunca saía da minha cabeça a ideia de que elas
não podem ser uma geração perdida. O problema é muito grave e até o momento sem
solução.
Há outro
problema grande, o preconceito. Muitos gregos são bons, solidários à causa, mas
a maioria acredita que os refugiados que chegaram ao país só estão contribuindo
para que a Grécia “afunde” ainda mais. Quatro vezes escutei: “você é voluntária
e ajuda refugiados aqui? Saiba que a Grécia tem outros problemas bem mais
graves!”; e aquela cara de reprovação, que me incomodava muito, sempre vinha na
sequência. Entendo que a situação do país não seja das melhores, mas acredito
que agir dessa maneira não irá solucionar os problemas econômicos do país.
Apesar dos problemas e da diversidade de religiões, senti uma união e paz entre todos os moradores do hotel. E segundo eles mesmos, todos estão passando por problemas parecidos, e se unir é uma forma de aliviar a dor. As crianças me pareceram aceitar a situação com mais naturalidade, parecem não entender o que realmente acontece. Amorosas sempre, a maioria tem do lado algum membro da família, não está sozinha no país. Isso me aliviou um pouco.
Apesar dos problemas e da diversidade de religiões, senti uma união e paz entre todos os moradores do hotel. E segundo eles mesmos, todos estão passando por problemas parecidos, e se unir é uma forma de aliviar a dor. As crianças me pareceram aceitar a situação com mais naturalidade, parecem não entender o que realmente acontece. Amorosas sempre, a maioria tem do lado algum membro da família, não está sozinha no país. Isso me aliviou um pouco.
Sobre o
futuro, quando desenvolvi uma atividade com as crianças sobre sonhos, que deu vida ao meu projeto "Um sonho e um sorriso" e se tornou material de exposição (clique aqui para conhecer melhor meu trabalho), senti que
elas têm uma grande dificuldade de saber o que vão ser quando crescerem, o que
querem para o futuro.
Muitas simplesmente disseram não ter sonhos. Isso me assustou. As que conseguiram se expressar um pouco melhor querem, na maioria dos casos, ser doutores para ajudar as pessoas, bombeiros para apagar o fogo das casas que são bombardeadas e policiais, para prender as pessoas “do mal”. É simplesmente um reflexo da realidade deles em seus países de origem. Muitas delas nasceram no meio de uma guerra e só foram conhecer um pouquinho do que significa paz quando fugiram.
Difícil expressar com palavras aquilo que o meu coração sentiu durante esses dias. Parece pouco tempo, mas é tudo muito intenso. A gente faz a nossa parte, sabe que não pode mudar toda aquela situação, mas é gratificante conseguir arrancar um sorriso do rosto de cada um deles. Sim, além das coisas materiais eles precisam de amor, muito amor.
O projeto foi exposto em um dos eventos do Instituto Adus, onde sou voluntária há mais de dois anos
Muitas simplesmente disseram não ter sonhos. Isso me assustou. As que conseguiram se expressar um pouco melhor querem, na maioria dos casos, ser doutores para ajudar as pessoas, bombeiros para apagar o fogo das casas que são bombardeadas e policiais, para prender as pessoas “do mal”. É simplesmente um reflexo da realidade deles em seus países de origem. Muitas delas nasceram no meio de uma guerra e só foram conhecer um pouquinho do que significa paz quando fugiram.
Adolescente síria escrevendo o sonho durante a atividade
Difícil expressar com palavras aquilo que o meu coração sentiu durante esses dias. Parece pouco tempo, mas é tudo muito intenso. A gente faz a nossa parte, sabe que não pode mudar toda aquela situação, mas é gratificante conseguir arrancar um sorriso do rosto de cada um deles. Sim, além das coisas materiais eles precisam de amor, muito amor.
O brasileiro é
bem-vindo em qualquer lugar do mundo e dessa vez não foi diferente. Em tão
pouco tempo aquelas famílias eram como se fossem minhas. Foi mais que
imaginava, foi uma grande lição de vida. A Grécia precisa, mais do que nunca,
de voluntários de qualquer parte do mundo e, apesar de ter ficado feliz quando
soube que fui a primeira brasileira no armazém, fico triste por saber que os
brasileiros são pessoas boas, mas se envolvem muito menos nessa causa do que
deveriam. Aliás, o refúgio é um tema não tão conhecido e pouco explorado pelo
nosso país.
A imigração
ilegal é um problema na Europa há muitos anos e um problema ainda maior para
essas famílias que só tinham duas opções, fugir do seu país ou ser vítima da
guerra. Nunca vou esquecer do que ouvi de um pai de família que fugiu do
Afeganistão com a mulher e quatro filhos. Durante uma excursão em uma das
praias mais bonitas de Atenas, organizada por voluntários que reuniram mais de
50 refugiados em um domingo de calor, Syed Nadeem Hussain me disse com lágrimas
nos olhos: “Gastei 18 mil euros para chegar aqui. Provei ao governo grego que
vivíamos em meio a uma guerra, que quero trabalhar e criar meus filhos com
dignidade e não consigo me legalizar. Nosso visto já foi negado uma vez e estou
tentando de novo. Foi muito duro ter que vender até as joias que dei para a
minha mulher para conseguir fugir e hoje não termos nada, nem sequer o
reconhecimento como cidadão”.
Gostaria de
ter permanecido na Grécia por mais tempo, mas as responsabilidades que tenho
aqui no Brasil não me permitem. Quero voltar, mas enquanto não posso
continuarei acompanhando as famílias de longe e trabalhando para integrar os
refugiados que chegaram ao nosso país. Tenho a esperança de que novas medidas
serão criadas e adotadas pelo governo. Só assim esses imigrantes finalmente
conhecerão a paz e a dignidade humana.
Links de algumas matérias que saíram sobre esse meu
trabalho:
http://migramundo.com/conheca-um-dos-locais-responsaveis-por-dar-assistencia-aos-refugiados-que-vivem-na-grecia/ (tudo sobre o meu trabalho no armazém)
Gostaram do Post? Dúvidas de como ser um voluntário fora do Brasil? Deixem comentários! Beijinhos :)
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