Boneca de ferro na Irlanda do Norte

by - terça-feira, agosto 14, 2018

Olá, gente! Hoje vou compartilhar com vocês como foi passar o dia na Irlanda do Norte! É uma ótima opção, principalmente para quem está na República da Irlanda ou passando/vivendo em um dos países do Reino unido. É bem pertinho e é um país rico em história!



Mas, então são duas Irlandas? Dois países diferentes? Sim, e vou explicar para vocês agora como isso funciona, antes de contar como foi minha experiência.


Até o século passado, a República da Irlanda e Irlanda do Norte eram o mesmo país. Porém, após alguns conflitos devido a questões religiosas, políticas e econômicas, eles se tornaram países independentes. Entenda o que aconteceu:

A Irlanda e a Irlanda do Norte foram palco de grandes guerras separatistas devido a questões políticas, econômicas e religiosas. A disputa se originou no século XII. Na época, o monarca inglês Henrique II tentou anexar a ilha da Irlanda ao seu reinado e, embora os irlandeses tenham resistido a isso, os britânicos começaram a se mudar para o país.

Além da disputa política, havia também a relação religiosa: os recém-chegados no país eram majoritariamente protestantes, enquanto os irlandeses seguiam o catolicismo. Como havia, assim, dois grupos de interesses opostos, os imigrantes britânicos decidiram se concentrar na região ao norte chamada Ulster para evitar conflitos.

O clima de hostilidade durou até o século passado, em 1920, quando o parlamento inglês criou duas regiões com autogoverno limitado na ilha: a de Ulster, ou Irlanda do Norte, com predomínio britânico e de protestantes, e a dos condados restantes, a Irlanda, com maioria católica.

Dois anos depois, a soberania da Irlanda aumentou, o que fez com que ela se tornasse ainda mais independente da Inglaterra. Foi aí que começaram a acirrar as guerrilhas com grupos armados de ambos os lados, como o IRA (Exército Republicano Irlandês) e os movimentos unionistas.

Após uma série de atentados, em 1949, foi concedida autonomia ao território da Irlanda do Norte. Mesmo assim, as disputas não finalizaram e, em 1972, ocorreu o mais famoso episódio de conflito: o “domingo sangrento”, cantado pelo U2 (Sunday Bloody Sunday).

Nessa ocasião, em 30 de janeiro, os soldados britânicos mataram 14 católicos que faziam parte de uma manifestação na cidade de Derry, na Irlanda do Norte.

Toda essa violência fez com que houvesse uma necessidade de um Tratado de Paz, assinado em 1994 por ambos os lados. Embora ainda exista um clima hostil entre os dois países, acredita-se que tenha diminuído consideravelmente.

Atualmente, os dois possuem bandeiras, hinos, sistema político e econômico diferentes. A capital da Irlanda do Norte é Belfast, enquanto a da Irlanda é Dublin. Foi para Belfast esse meu bate e volta, que contarei para vocês a partir de agora.

De Dublin para Belfast




Resolvi conhecer esse outro país porque achei essa história de separação muito interessante. Além disso, a Irlanda do Norte tem uma hisyória bem peculiar recheada de conflitos e guerras civis.

A moeda é a libra, não usam o euro!! Outra curiosidade é que não existe fronteira, imigração ou algo do tipo para passar de uma Irlanda para a outra. Você vai andando, andando e já está em outro país sem saber. Eu só percebi porque o GPS me informou (rs).


Fiz o trajeto de carro, cerca de 165 quilômetros de distância, mas quem não tem carro encontra em Dublin opções de tour por cerca de 45/50 euros.

 Além disso, é possível viajar de ônibus ou trem. A AirCoach, é uma empresa de ônibus que, assim como acontece em locais importantes pelo mundo, parar no aeroporto para pegar os passageiros que querem ir de Dublin com direção a Belfast. Vocês vão desembolsar entre 18 e 22 euros. A viagem será de aproximadamente 2 horas, saindo do centro de Dublin (O’Connell Street) ao centro de Belfast (Glengall St.).

Se optarem por ir de trem, devem pegá-lo na estação de partida: Dublin Connolly (Seville P1 Dublin Dublin). O tempo entre Dublin e Belfast é de aproximadamente 2 horas e 10 minutos. Sendo 07:35 o horário de saída do primeiro trem partindo de Dublin e 20:45 o último. O valor é cerca de 37 euros. Oito trens circulam diariamente entre as duas cidades.
Antes de falar sobre o roteiro que fiz, quero que vocês entendam e conheçam um pouco mais sobre a história da Irlanda do Norte:
Há uma grande polêmica entre a maioria Protestante Britânica, e a minoria Católica Irlandesa. Quando a Irlanda se separou do Reino Unido em 1921, a Irlanda do Norte permaneceu Britânica. O país é uma entidade democrática parlamentar, atualmente sob a administração do governo da Inglaterra.
Irlanda do Norte é composta por seis municípios que já pertenceram à antiga província Irlandesa do Ulster. Ela não faz parte da República da Irlanda de hoje, no entanto. Ela é uma das quatro unidades constituintes do Reino Unido.
A população é em grande parte de descendência Escócia-Inglesa. Mas uma minoria significativa reivindica a herança Irlandesa. Por muitos anos, as diferenças religiosas e as desigualdades políticas entre os dois grupos têm causado hostilidades que, muitas vezes terminraram em violência.
No entanto, um acordo de partilha de poder, assinado em 1998, tem ajudado as duas facções lentamente a superar sua desconfiança. 
A Irlanda do norte segue como uma das regiões mais pobres dentro da Grâ-Bretanha, situação agravada pela divisão da população, que utiliza a religião como divisor fundamental: do lado católico estão agrupados todos os que reivindicam a união do Ulster com a República da Irlanda, em especial o famoso movimento independentista Sinn Féin, e seu braço armado, o IRA (Exército Republicano Irlandês); do outro lado estão os unionistas ou orangistas, de orientação protestante e que lutam para preservar o status quo.
Apesar de seu tamanho modesto, o país abrange uma variedade de paisagens, desde montanhas escarpadas a vales suaves, de praias de areia para vastos pântanos. O Reino Unido tem designado aproximadamente dois terços da costa da Irlanda do Norte e sua arborizada Glens de Antrim como protegidas “Áreas de Beleza Natural Excepcional”.
Não vou detalhar muito, mas já dá para vocês terem uma noção da complexidade. Conforme vou relatando sobre os passeios, explico um pouco mais. 
Vamos ao roteiro!
Meu roteiro em Belfast



Tinha somente um dia para fazer tudo que tinha vontade, por isso fiz uma pesquisa e escolhi alguns lugares que achei mais interessantes. Minha listinha incluiu Peace Wall, Museu do Titanic, Giant's CauseWay e a famosa ponte Carrick-A-Rede. Há outros lugares para conhecer, mas acredito que esses sejam os principais e se vocês conseguirem fazer esse roteirinho está de bom tamanho, principalmente quando se trata de um bate e volta.
Primeira parada: Museu do Titanic
Acho que muita gente é apaixonada pelo filme Titanic, assim como eu. Como disse anteriormente, a Irlanda do Norte é recheada de histórias, e a do Titanic é uma delas. Fui saber disso depois que vim morar na Irlanda e logo quis conhecer. Foi exatamente em Belfast, que o navio foi construído e hoje possui não apenas um museu, mas também um quarteirão inteiro dedicado em sua memória.
Vamos relembrar um pouquinho sobre o Titanic?
RMS Titanic foi um navio da classe Olympic operado pela empresa White Star Line. Ele foi projetado por Alexander Carlisle e pelo engenheiro Thomas Andrews e teve sua construção iniciada em 1909 no estaleiro de Harland and Wolff em Belfast na Irlanda do Norte. Em 1911, o casco do Titanic ficou pronto e ele foi lançado ao mar e levado até uma doca perto dali, construída especialmente para ele e onde ficou até ser finalizado em 1912.
Era um plano muito ousado para época, o navio possuía mais de 270 metros de extensão, 3 milhões de rebites, o casco possuía 2 mil placas de aço e cada uma com mais de 2 metros com 4 centímetros de espessura. O navio ainda possuía 3 hélices de bronze, as laterais mediam 7 metros de diâmetro e pesavam 38 toneladas e a do meio possuía 5 metros de diâmetro pesando 22 toneladas. Das 4 chaminés apenas 3 funcionavam, a última era apenas um elemento para dar imponência ao navio. Ao todo ele pesava mais de 46 mil toneladas, era o mais moderno e luxuoso navio da época.
No dia 4 de abril de 1912 ele foi para Southampton na Inglaterra para embarcar a maioria dos passageiros, em seguida para Cherbourg na França e depois para Cobh/Queenstown* na Irlanda antes de partir para os Estados Unidos. Ao todo 1316 passageiros estavam no navio, que somados aos 913 tripulantes totalizaram 2229 pessoas à bordo.

No dia 12 de abril de 1912 o Titanic começou a receber de outros navios alertas de icebergs e camadas de gelo sobre a água, porém ele não alterou a sua rota. Na noite do dia 14 de abril de 1912, às 23:40 e após já estar no meio do oceano e há 41km/h o navio chocou a sua lateral com um iceberg que deixou um rasgo de 12 metros no casco, fazendo com que 7 toneladas de água por segundo entrassem no navio, mais do que a capacidade que as bombas tinham para drenar. Naquela altura já não havia mais o que fazer, os compartimentos e as caldeiras estavam submersas e o Titanic estava afundando (já tô quase chorando aqui). Enfim, mais de 1500 pessoas morreram.
O Museu do Titanic que relembra toda a história do navio, desde a construção até o pós naufrágio está localizado em um prédio projetado para ser um marco arquitetônico no país de tão grandioso como foi o navio, ele funciona no mesmo lugar onde há mais de 100 anos atrás o Titanic foi construído. O museu foi aberto ao público no dia 31 de março de 2012, aos exatos 100 anos após o primeiro lançamento do navio no mar e teve um custo de 97 milhões de libras, cerca de 285 milhões de reais.



O design do prédio é totalmente inovador, foi feito para lembrar a proa do Titanic e inclusive tem a mesma altura dele. O lado de fora do museu é revestido com mais de 3 mil folhas de alumínio colocadas de forma irregular para lembrar as ondas do mar. Ele é dividido em 9 galerias e 6 andares e suporta ao todo 3.547 visitantes, o mesmo número que o Titanic suportava em passageiros.
Como foi a visita




Resolvi fazer a primeira parada no Titanic Quarter (que é o quarteirão todo dedicado ao Titanic, onde está o museu) devido ao horário. Se eu perdesse a hora e encontrasse esse lugar fechado ia me matar ali mesmo (rs).

Antes de acessar o museu, visitei o ponto em o Titanic foi construído. No chão, dezenas de linhas mostram exatamente o local da construção e um mural de vidro com os 1500 nomes, homenageando os mortos nesse naufrágio.











Visitei também o SS Nomadic, uma pequena embarcação que serviu para levar os passageiros das 1ª e 2ª classes ao navio. É possível entrar dentro dele, visitar cada cômodo, vestir roupas típicas da época para tirar fotos e no final ganha até um certificado (rs).















Depois disso, comprei a entrada para o museu que custou 18,50 libras, e tive que esperar cerca de uma hora e meia para começar o tour. Estava bem lotado, é um local bem turístico. Quem vai para a Irlanda do Norte não pode deixar de passar por lá.






Há uma loja enorme de souvenirs muito legais (foi lá consegui o imã de geladeira da coleção da minha mãe que nunca pode faltar rs), cafés e uma lanchonete, caso vocês também tenham que esperar pelo tour.













O tour dura cerca de uma hora e quinze. As nove galerias contam a história desde muito antes "do navio pensar em ser construído' até a repercussão que seu naufrágio deixou, ou seja, ali passamos desde os anos dourados do mercado naval na região, até o projeto, construção e finalização do Titanic. Tem até um passeio em uma mini montanha russa que nos leva para dentro da sala de máquinas. Ah, vale lembrar que o museu é totalmente interativo, então em alguns momentos é possível que vocês mesmos guiem o passeio por ele.
Em uma outra sala há a representação da noite do acidente, nela podemos ler nas paredes todos os pedidos de ajuda que o Titanic fez com outros navios, inclusive há um som ambiente que é o do código morse enviado pelo navio. Passando adiante podemos descobrir mais e ver algumas fotos inéditas dos sobreviventes e da missão de recuperação dos corpos no mar. Os poucos corpos que foram identificados foram levados para cemitérios, e os demais foram enterrados como indigentes (sem falar que muitos corpos se quer foram encontrados). É muito interessante e emociona bastante, parece que você está vivendo aquela história.
Em uma das galerias tem um grande cinema onde dá para explorar os restos do navio debaixo do mar. Além da tela na parede, há uma no chão e vários computadores espalhados pela sala, pois essa parte é bem interativa, vocês poderão comandar o que querem explorar debaixo da água através dos vários monitores touch screen.












Valeu muito a pena ter feito essa visita. Dali parti para o famoso muro, o "Peace Wall".
Peace Wall- Muro da Paz



Chamados de “Peace Walls” (“Muros da Paz”, em português), mas também conhecidos como “muros da vergonha” (que é o nome que eu daria para isso), a primeira barreira para separar nacionalistas (maioria católica, de nacionalidade irlandesa ou que se identifica como) e unionistas (maioria protestante, de nacionalidade britânica ou que se considera) foi construída em 1969, com o objetivo de reduzir a violência de ambos os lados. Dessa época até 1999, cerca de 3.500 pessoas foram mortas por conta do conflito religioso e sociopolítico.




Uma das principais divisórias está localizada em Belfast, e virou atração turística nos últimos anos. Ela tem um portão monitorado e que é bloqueado às 22 horas, suspendendo o transporte público e provocando até desvios de rotas.





As paredes são compostas por diversos grafites, mensagens políticas e faz referência ao separatismo entre palestinos e israelenses e à divisão dos alemães em Berlim, que durou 28 anos. 
É possível assinar nesses muros, deixar uma mensagem. Eu deixei a minha. São bonitos grafites, chocante e bonitas mensagens, porém é triste ver que ainda hoje existe esse tipo de coisa, esse preconceito, essa intolerância por parte dos seres humanos que vivem em um mundo onde precisamos cada dia mais estarmos unidos, indepente de posicionamento político e religioso.









Dali, parti para a famosa ponte Carrick-A-Rede.
Ponte Carrick-A-Rede




De Belfast até a ponte levei cerca de uma hora, são 95 km. Fiquem atentos para os horários porque ela fecha. Parece que funciona até oito horas da noite, mas precisa chegar antes para a compra dos ingressos. Na recepção vocês conseguem pegar um informativo que contém todas as informações necessárias. 





Mas afinal, o que tem de especial nessa ponte?




Essa ponte é feita de cordas, tem 20 metros de comprimento e está há mais de 30 metros de altura. Dá um certo medinho de atravessar, vi muita gente gritando, (só atravessam no máximo oito pessoas por vez), principalmente quando começa a balançar. Do estacionamento até a ponte é necessário caminhar cerca de 1km, numa trilha que beira os penhascos. 

Para atravessar a ponte para a ilha a taxa cobrada é 5.90 euros. A vista do local é linda, vale a pena a experiência! Eu gosto de me aventurar. Viagem sem aventura não tem graça (rs).








Última parada: Giant's CauseWay



Bom, era para ter sido a última parada, mas estava exausta e decidi não ir. Já era tarde, mas dava tempo, sim. Não fui pelo cansaço  mesmo (rs).

Deixei por último justamente porque se não desse tempo, era o local que não ficaria tão triste se deixasse de lado. Mas, para quem tem tempo e interesse, é uma área com cerca de 40 mil colunas de basalto interligadas resultantes de erupção vulcânica. Cerca de 50 a 60 milhões de anos atrás, durante a época do Paleoceno, esta região estava sujeita à intensa atividade vulcânica, e o basalto fundido altamente fluido invadiu os caminhos de giz para formar um extenso platô de lava que chegava a uma temperatura de 1.100ºC.
À medida que a lava esfriou, ocorreu uma contração. O formato hexagonal das colunas é devido às taxas de resfriamento do basalto, afetando as colunas vizinhas, que se solidificaram meio que juntas. O tamanho das colunas foi determinado principalmente pela velocidade em que a lava da erupção vulcânica foi esfriando. A maior parte das colunas tem o formato hexagonal, embora existam casos com quatro, cinco e até oito lados. As colunas mais altas tem cerca de 12 metros de altura e a lava solidificada nas falésias é de 28 metros de espessura em alguns trechos.

Em 1986, a área foi declarada Patrimônio Mundial da UNESCO e é considerada uma reserva natural nacional. Consegui alguns folhetinhos com informações e vou postar aqui embaixo para que vocês possam ter uma ideia de como é esse passeio.




Quem sabe em uma próxima, né mores?!
Foi um domingo super diferente. Consegui conhecer muitos lugares, um pouco mais desse país que simplesmente não sabia nada antes de vir para a Europa. Super recomendo que façam o mesmo!
Gostaram do post? Deixem seus comentários e dúvidas para mim! Beijos <3


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2 comments

  1. Bom,em primeiro lugar elogiar,a sua capacidade de informar todos os detalhes da visita,com um descrição curta,objetiva e da fácil entendimento,não sei até agora o porque de você não esta numa rede famosa de TV,é inteligente,bonita,carismática e informa cada Post com detalhes,simples e objetivo. Sobre a viagem,amei,fiquei sabendo de coisas que eu desconhecia sobre a Irlanda do Norte,Belfast e Irlanda, Dublin o que amei foi saber do Titanic o país onde foi construído esse navio,as historia sobre ele,fantástico,lembranças como Titanic Belfast,medalhas Titanic 1912,Peace wall,muro da paz,muros da vergonha,ponte Cause way,Baralto,enfim fiquei conhecendo uma país do mundo sem visitar,graças a sua criatividade,em fazer este post com tanto carinha e perfeição,poriso te digo você é uma benção para mim,te admiro,vibro com tudo que manda,pelo carinho e o jeito que publica sua trajetória de vida,parabéns,Alethea,que Deus te proteja sempre,para que continue ser essa mulher,linda,maravilhosa,que é...

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  2. Desculpe alguns erros de português,pois descrevi sobre este post com muita emoção,e gratidão,por ser seu amigo..

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