Guiana Francesa é União Europeia!

by - sexta-feira, junho 14, 2024

Olá, gente! Hoje vou compartilhar com vocês como foi a minha rápida passagem pela Guiana Francesa. Essa viagem surgiu a partir da ideia de "zerar" todos os países da América do Sul. Mas não foi somente por isso, eu tinha muita curiosidade de conhecer as Guianas e o Suriname, não sabia quase nada sobre esses países.



Nessa viagem consegui conhecer esses três países. Ah, e tem mais, como fiz tudo por terra parti do Amapá. Não conhecia o Amapá, era o único estado do Brasil que me faltava conhecer.

Viajei de São Paulo para o Amapá de avião e dali fui fazendo tudo por terra. Passei pela Guiana Francesa, Suriname e Guiana Inglesa até chegar na capital de Roraima, Boa Vista. De lá peguei um avião de volta pra São Paulo. Foi uma das experiências mais loucas e bacanas da minha vida e irei compartilhar tudo com vocês. Para poder detalhar bastante sobre cada país, vou escrever os posts separados, começando pela Guiana Francesa.

Quando decidi fazer esse roteiro sabia que ia ser um grande desafio. E foi. Acho que foi o roteiro mais desafiador que fiz até hoje. Passei quase dois meses planejando e muita coisa foi impossível de planejar por falta de informação. Lugares extremamente difíceis de encontrar informações pela internet e quando encontrava algo era praticamente impossível confirmar. O pouco que consegui confirmar me deixou perdida do mesmo jeito. 

Foram pesquisas profundas, peguei até contatos de moradores do Amapá pra ver se me ajudavam, tentei de tudo. Por incrível que pareça, nem em outros blogs eu encontrava dicas. Encontrei pouquíssima coisa e de posts bem antigos. Definitivamente são países esquecidos para nós da região sul/sudeste do Brasil. Achei que eram desconhecidos pela maioria dos brasileiros, mas depois que vi a quantidade de pessoas do norte e nordeste que vivem nesses países comecei a enxergar de outra maneira.

O que me ajudou um pouco foi que conheci on line um guia do Amapá, que me indicou um amigo da Guiana Francesa, que me indicou um amigo e um amigo e outro amigo, e foi assim que fui conseguindo contatos para tirar minhas dúvidas e conseguir os transportes. Acho que a parte dos transportes foi o mais defafiador. Não é possível comprar praticamente nada antecipado e on line e não há informações sobre transportes pela internet. A maioria dos trajetos é feito de van particular e pirogas (pequenos barcos). Enfim, tive que planejar mais ou menos as datas, mas fui reservando as hospedagens no decorrer da viagem porque como não tinha NENHUM transporte comprado, fiquei com medo de dar tudo errado. Foi a viagem mais incerta da minha vida (rs).

Cada país com uma moeda diferente, um idioma diferente, quase fiquei louca pra por tudo isso no papel sem ter quase nada planejado com antecedência. Sou muito organizada com os meus roteiros de viagem. Os moradores brasileiros que vivem nesses países me ajudaram bastante também, mas a questão de horários de vans e barcos foi na sorte. O mais desesperador é que quando conseguia a van, por exemplo, só saía quando lotava. Se não lotava, não saía. Que sufoco. Muitas vezes era uma van por dia, imagina o meu desespero de ter feito check out no hotel, ter reservado o próximo e correr o risco da van não sair. Que aventura, meus amigos! (rs).

Mas, antes de contar como cheguei na Guiana Francesa e o que vi por lá, vou contar um pouquinho sobre esse país tão pouco conhecido por brasileiros. Um país na América do Sul ode falam francês e usam euro já dá pra notar que é bem diferente.

UM POUQUINHO SOBRE A GUIANA FRANCESA

A Guiana Francesa é um território localizado na América do Sul que faz fronteira com o estado do Amapá e é cortado pela linha do Equador. Desde março de 1946, a região figura como um departamento ultramarino francês. Isso significa que o mesmo é um território subordinado à França, por isso, integra a União Européia, mesmo estando na América do Sul. As principais relações comerciais ocorrem quase que exclusivamente com a França, exportando, sobretudo, madeira e pescados. A principal cidade, e também capital da Guiana Francesa, é Caiena (onde me hospedei).

Com uma área de 86.504 Km2, pouco menor que o estado de Santa Catarina, abriga uma população constituída por cerca de 209 mil habitantes. E pasmem: contando com cerca de 30% de brasileiros em sua população. A população brasileira na Guiana Francesa atingiu a marca de 91,5 mil em 2022, se tornando a 10ª maior comunidade nacional em solo estrangeiro, superando, pela primeira vez, a presença brasileira na Argentina e na própria França europeia.

Como a Guiana Francesa integra a República Francesa, a moeda que circula é o Euro. As principais atividades econômicas desenvolvidas no território é o extrativismo animal, por meio da pesca, e o extrativismo mineral.

O PIB tem crescido gradativamente ano após ano, passando de 3,5 bilhões de euros em 2012 para aproximadamente 4,5 bilhões de euros em 2021. Entretanto, opera com déficit em sua balança comercial, pois importa cerca de duas vezes o que exporta. Isso torna a Guiana Francesa altamente dependente da metrópole, que provê subsídios e repasses. Além disso, a França metropolitana é o principal importador de seus produtos, representando mais de três quartos do total (sendo mais da metade constituída pelo ouro).

A infraestrutura é precária e o custo de vida é alto. Uma em cada quatro famílias vivem abaixo da linha da pobreza. A região enfrenta uma crise econômica e convive com problemas nas áreas de saúde e educação, falta de investimentos e uma taxa de desemprego que varia entre 20% e 30%, afetando principalmente a população mais jovem. Apesar disso, o IDH e os salários praticados são maiores do que muitos de seus vizinhos sul-americanos. Esse fator aliado à promessa de receber em euro se traduz em atrativo para imigração.

Aproximadamente 90% do território é coberto pela densa floresta tropical amazônica. Dessa área, quase a totalidade corresponde a florestas primárias com pouca ou nenhuma intervenção humana. A oportunidade geográfica é utilizada para as aspirações francesas em temas de sustentabilidade através de áreas de preservação e restrições à intervenção humana. 

A mineração ilegal é um grande problema enfrentado pela região e com impactos ambientais e humanos ainda maiores. A atividade tem atraído principalmente brasileiros (conheci vários, inclusive mulheres). A Legião Estrangeira Francesa tem realizado diversas operações nas áreas de difícil acesso da floresta tropical para desmantelar a atividade ilegal, algumas contam com represálias por parte dos garimpeiros. Apesar de consideradas operações bem sucedidas, uma vez finalizadas, os garimpeiros rapidamente retomam normalmente as atividades e o conflito se prolonga. 

O Centro Espacial de Kourou representa a principal fonte de divisas do território e o principal interesse socioeconômico e geopolítico francês na região. Sozinho, contribui com cerca de 25% do PIB anual da região e emprega quase 2 mil pessoas. Mas, sobre esse Centro (que visitei e foi incrível) vou escrever daqui a pouco).

TRAJETO PRA CHEGAR EM CAIENA

Bom, pra atravessar pra Guiana Francesa foi necessário uma longa jornada e meio  que "no escuro". Afinal, no Amapá me falaram como seria, mas não tinha nada comprado e nem sabia de horários, etc. A única passagem que consegui comprar antecipada em toda essa viagem por esses 3 países foi a do Macapá para a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, para a cidade de Oiapoque. 


Foram dez horas de viagem e 193 reais gastos. Comprei na rodoviária, um ônibus até decente, porém sem wifi e após meia hora de viagem já não tinha mais sinal de internet no celular. A viagem foi noturna (saí as oito da noite e cheguei quando estava amanhecendo). Tinha visto na internet que a estrada era um horror, mais de 100 km só de terra. Quando chove é impossível passar, vários acidentes. Tive muita sorte porque não choveu e o chão estava seco. Consegui até dormir na viagem, não achei que foi o fim do mundo como estavam relatando em outros blogs.

Quando cheguei em Oiapoque começaram as dúvidas. Não sabia se tinha que pegar um táxi e ir até a ponte do Rio Oiapoque e dar a saída do Brasil ou pegar um táxi e ir até a beira do rio e pegar um barquinho (que eles chamam de Piroga) conduzido por locais e atravessar para o lado da Guiana (São Jorge de Oiapoque). Se usasse o barquinho não tinha como passar pela imigração, mas todo mundo tava falando que não tinha problema porque tenho passaporte europeu e a Guiana Francesa é UE.

Me deu medo porque colhi informações com o locais, mas confiei. Tive que confiar. Onde conseguir informações oficiais no meio do nada? Na madrugada...

Perguntei pra várias pessoas que me recomendaram entrar direto. Lembrei de uma vez que esqueci de dar a saída no Peru e entrei na Bolívia direto e depois fiquei horas presa na imigração. Mas resolvi ir. Peguei a piroga e fui.  Cheguei na beira do rio e tinham várias, escolhi a que estava saindo naquele momento (só tinha eu e mais uma pessoa). 

Ainda estava escuro, o trajeto durou 15/20 minutos e acompanhei o sol nascer, foi lindo demais. No começo fiquei com receio, um barquinho velho motorizado, um morador local, tudo escuro. Mas deu tudo certo. Ele me deixou já em São Jorge (lado da Guiana). Ah, detalhe: brasileiros que não tem passaporte europeu precisam de visto. Por tanto, obviamente se não passar pela imigração vai ficar irregular no país. Não façam isso! (rs)









Enfim, cheguei do lado francês e já tinham várias vans paradas esperando passageiros para seguirem para Caiena. Encontrei o motorista de uma das vans que eu estava conversando pelo WhatsApp (indicado por um colega do Amapá) e fui com ele. Ufa, deu certo. Estava com medo de chegar e não ter van nenhuma (rs), mas foi mais fácil do que eu imaginava. Só que é aquela coisa, tem que esperar a van encher. Demorou apenas 40 minutos e partimos para mais 3 horas e pouco de viagem. Paguei 50 euros, nessa hora me dei conta que era tudo em euros e que eu tava lascada(rs). 



No caminho fomos parados pela polícia (eram franceses) e pediram meu passaporte. Fiquei com medo porque como atravessei sem passar pela imigração (sem ter 100% de certeza que era o certo) achei que ia ser questionada. Deu tudo certo. Olharam e não falaram nada. 

A viagem foi tranquila e foi nesse trajeto que comecei a me dar conta de quantos brasileiros vivem nesse país. É português pra todo lado. E, muito "diferente" ver esse monte de brasileiro falando francês. A maioria das pessoas que encontrei na Guiana era do Maranhão e do Amapá e quando dizia a eles que não encontrava nenhuma informação na internet e estava perdida naquele país eles riam. Como disse, as Guianas e o Suriname só bastante conhecidas pelos brasileiros do norte e nordeste do Brasil.

Reservei um Airbnb por três noites e graças a Deus, o dono da casa se comprometeu a me pegar no centro da cidade e me levar para a casa dele porque não tem transporte público acessível até lá (eram cinco quilômetros e não dava pra ir caminhando naquele calor insuportável e com malas). Aliás nem comentei ainda do calor. Que calor infernal, parecia que eu estava em Manaus, Roraima. Horrível, assustador! (rs) Era ruim pra dormir, pra andar na rua, pra tudo. Só peguei um calor pior no Egito (47 graus). No final da viagem estava super queimada, mesmo usando protetor e sombrinha.

Enfim, o dono do apartamento era francês, foi viver sozinho em Caiena na pandemia. Abandonou a família e foi se aventurar. Ele era um pouco louco, aliás bem louco, mas a casinha era agradável. Era um apartamento bem arejado, grande, com quarto e banheiro pra mim. A única coisa que fiquei bem incomodada é que no anúncio que dizia tinha wifi e era mentir. O cara me ofereceu rotear do celular dele e isso foi horrível porque eu só tinha internet quando ele estava em casa, tinha que ficar pedindo pra ele pra poder conectar. Ah, não tinha nada escrito que não tinha água quente e tomei banho gelado todos os dias (mesmo no verão, não gosto de banho gelado). Ah, e teve algo pior, estava escrito que o acesso ao centro era super fácil, que tinha ônibus, etc. Mentira também. O próprio dono não sabia como me orientar, nao achei nenhum ônibus e todas as vezes que fui ao centro teve que ser a pé ou de carona. Me prejudicou demais. Eu dei um jeito, mas fiquei bem puta da vida com isso.

CURIOSIDADES E PONTOS IMPORTANTES PRA SABER ANTES DE CONHECER A GUIANA FRANCESA
  • Você vai ouvir português o tempo todo;
  • Muitos haitianos e chineses (há um bairro chinês que vende muamba de todo tipo (rs);







  • No mesmo bairro chinês tem uma feira livre, onde encontrei umas frutas e uns legumes que nunca tinha visto na minha vida!




  • Tudo é em euro, prepare o bolso! (rs);

  • O Carrefour é o principal supermercado;
  • É possível encontrar padarias brasileiras com pão de queijo e coxinha;
  • É tudo escrito em francês. Difícil pra "se achar"!;




  • Não tem internet livre em nenhum lugar, tive que ser cara de pau e pedir pra me emprestarem internet, mas só os  brasileiros me ajudaram;
  • É um calor insuportável (como comentei);
  • Caiena não tem quase nada turístico pra conhecer;
  • O atendimento ao público é horrível e não achei as pessoas muito receptivas com turistas, só os brasileiros mesmo;
  • Muitos franceses vão morar na Guiana por causa do clima e muitos porque preferem o caos (rs). Escutei isso deles;
  • Muitos moradores de rua, inclusive brasileiros;
  • Transporte público péssimo, poucos ônibus e com horários aleatórios (o site para conseguir informações é horrível). Melhor maneira de se locomover são as vans privadas e taxis coletivos;
  • A população é predominantemente negra;
  • O consulado do Suriname fica bem no centro de Caiena. Quem quiser seguir para o Suriname por terra como eu fiz, tem que pagar a taxa de entrada nesse local (vou explicar no post do Suriname como fazer, inclusive alertar vocês sobre o erro que cometi que me custou 33 dólares a mais para que vocês não façam o mesmo);
  • Viver na cidade de Caiena é 66% mais caro do que na cidade de São Paulo. No entanto, o salário mínimo também é maior: os profissionais guianenses recebem cerca de 1.500 euros mensais.
  • A Guiana Francesa vive refém das políticas da União Europeia dentro de um continente que em nada se assemelha a Europa. Além de ter como moeda o euro e votar nas eleições presidenciais francesas, o território sofre com a precariedade de serviços essenciais na área de saúde e educação;
  • Conversei com muitos brasileiros que trabalham no garimpo e dizem ganhar muito dinheiro, apesar de trabalharem demais. Alguns disseram que a vida na Guiana é cara, mas vale a pena ganhar em euros e investir no Brasil. Muito brasileiros também conseguem a cidadania francesa, aprendem francês e vão morar na França. A maioria dos brasileiros que conheci trabalham com transporte.
  • Entre os pratos mais típicos e famosos estão: o caldo Awara (feito à base de polpa de palmeira), o peixe grelhado, os colombos (cozidos de carne e legumes ao molho curry), e os frutos do mar preparados com legumes e condimentos locais. Não experimentei nada típico o, me julguem. Minhas comprinhas eram básicas e no Carrefour (rs).
O QUE CONHECI EM CAIENA

Caiena (Cayenne), é uma cidade com cerca de 100.000 habitantes. Ela foi fundada por colonos franceses em 1643, em terras adquiridas aos índios Galibi. Segundo a lenda, o nome da localidade advém precisamente dessa comunidade, sendo o nome do filho do rei Cépérou, que pelos seus actos impressionou o pai que permitiu que fosse dado o seu nome à aldeia. O centro histórico de Caiena tem muitos edifícios estilo colonial.

Durante o tempo que estive nesta cidade, tive oportunidade de visitar os pontos turísticos. Visitar a Guiana Francesa e não passar por Caiena, é deixar para trás um destino importante que vale a pena conhecer.

1- Jardim Botânico de Caiena

Este jardim ocupa uma área de 3 hectares e fica ao fundo da Avenida Charles de Gaulle, junto à Universidade. O jardim foi oficialmente fundado em 1879 com o nome de Jardin du Roi. Ele contém uma série de espécies de árvores comuns na Guiana e é o maior espaço verde da cidade, sendo bastante central é muito procurado pelos locais para um momento de descanso.

2- Place des Palmistes




É a praça mais importante da cidade, localizada no coração do centro histórico. A Praça das Palmeiras é um lugar pelo qual todos devem passar durante a estadia em Caiena. Afinal, é nos arredores da praça que estão os principais pontos turísticos, restaurantes e comércios da cidade. Aos arredores da praça consegui achar alguns souvenires, mas nada muito barato.








Ficam ali, por exemplo, o Musee Departmental Alexandre-Franconie, dedicado à preservação da memória de Caiena, e a Coluna da República, um monumento em bronze criado para celebrar a queda da Bastilha, durante a Revolução Francesa. Tanto a praça quanto seus monumentos são tombados como Patrimônio Histórico da França.

3- Musée des Cultures Guyanaises

Apresenta um rico acervo arqueológico e documental sobre os diferentes grupos étnicos que formam a população do país, incluindo indígenas, europeus, africanos e até brasileiros.

Instalado em um casarão histórico em estilo crioulo que pertenceu a Herménégilde Tell, o museu também dispõe de um moderno edifício em anexo que abriga exposições artísticas temporárias.

O museu funciona diariamente, mas o horário varia de acordo com o dia da semana, então é necessário conferir o período de funcionamento online antes de visitar o espaço para não correr o risco de dar com a cara na porta.

4- As praias de Caiena

As praias da capital são de coloração escura devido a proximidade com a floresta. As mais claras estão bem afastadas da costa. Em Caiena, o litoral é a região chamada de Rémire-Montjoly. Lá encontramos algumas praias para banho como a Plage de Gosselin e Plage Salines.

Como comentei anteriormente, não há tantos lugares turísticos. Pra quem tem interesse, é possível fechar passeios para ter uma experiência na selva, dormir em barcos, etc. Parece interessante, mas não era o meu foco.

Fora esses lugares que citei acima, rodei bastante pela cidade pra conhecer a rotina dos moradores locais, o dia a dia, etc. Não dava pra caminhar tanto por causa do calor que era insuportável, mas mesmo assim fiz umas boas caminhadas. Transporte público era impossível pegar e ficar usando táxi em euros não estava nos meus planos. Fui no bairro chinês, onde encontrei uma feira livre, muitas lojas de produtos chineses estilo 25 de março, muitas coisinhas pra comer e vários restaurantes chineses (óbvio, rs).

Estava morta por causa da viagem, então a noite eu descansava. Nada de festas. Fui apenas em um roof top em uma das tardes, mas não recomendo. Atendimento péssimo e apesar da vista razoável era super sujo e com poucas opções.

Meu foco principal era conhecer o Centro Espacial e vou contar como consegui realizar esse pequeno sonho. Não foi nada fácil, mas deu tudo certo e eu só tenho a agradecer.

COMO FOI A VISITA AO CENTRO ESPACIAL DE KOROU
Já tinha ouvido falar que a Guiana Francesa tinha um Centro Espacial e fiquei bastante interessada. Fui atrás para saber como funcionava a visita. A reserva tem que ser feita com antecedência, a visita tem duração de 4 horas e é totalmente gratuita.

Só pra obter essas informações foi "um caos". Comecei a procurar no Brasil e depois de muitas e muitas horas de pesquisas e envios de e-mails consegui fazer uma reserva. Por um milagre responderam um dos meus e-mails. Mesmo com poucas informações deu certo. Mandei mais um e-mail pedindo  orientações de como chegar ao local e nunca mais responderam. Nada de informações no site deles. Achei somente um blog que dizia que existia o ônibus X que ia pra lá. Já conto no que deu.

Enfim, os tour são feitos em francês e inglês (somente uma vez da semana). Reservei em inglês. Apesar de ter ficado com medo de ter alguns imprevisto com as datas, já que a minha viagem não tinha nenhuma passagem comprada com antecedência, deu certo. Estava na Guiana Francesa exatamente na data da visita.

O Centro Espacial fica em Korou, uma cidade há 60 km de Caiena. Como chegar lá? Entrei no site da empresa que supostamente tinha um ônibus que levava até Korou e descobri que eles tinha cancelado essa linha, que já não existia. Ou seja, se não tinha ônibus quanto eu pagaria por um táxi (em euros) para rodarem 120 km comigo? (ida e volta). Fiquei desesperada até que um brasileiro me deu um contato de uma pessoa que fazia esse trajeto com um táxi compartilhado por 15 euros. Achei a mulher e fui com ela e mais três pessoas no carro. Quase me atrasei porque ela precisou esperar mais passageiros, mas cheguei a tempo da reserva. 

Quando cheguei no local fiquei pensando: "Como vou voltar pra Caiena depois?". Não podia perder essa visita e decidi viver o momento (rs). 

Como Deus está comigo conheci um peruano que estava no mesmo grupo de visitantes que eu e me deu uma carona pra voltar. Se não fosse ele talvez estivesse lá até hoje, no meio daquele nada(rs). É impressionante como não valorizam o turismo! Um local tao turístico e não tem um ônibus ou uma excursão!! 

Primeiramente vou contar um pouco sobre o Centro Espacial e depois vou compartilhar mais sobre a visita.

                   O CENTRO ESPACIAL DE KOROU


A base espacial francesa de Kourou movimenta o equivalente a um quarto do PIB da Guiana. Administrada pela Agência Espacial Europeia (AEE), sua segurança é garantida pela Legião Estrangeira, e a prevenção contra incêndios é feita pela Brigada de Incêndios de Paris. Ela oferece 20% dos empregos diretos e indiretos do território. 

A base foi concebida durante o governo de Charles de Gaulle, no marco da corrida espacial, após o lançamento do foguete russo Sputnik, em 1957, mas acabou se transformando também numa atividade econômica que alavancou a economia local.

Kourou foi escolhida por sua localização privilegiada, no ano de 1964. A base, contudo, só foi criada em 1975. Depois de sua inauguração, foram iniciadas negociações para seu uso compartilhado com várias agências aeroespaciais, incluindo a norte-americana. Cogitaram a possibilidade de construir no local foguetes Soyuz, em virtude de uma virtual cooperação russo-europeia. Grande parte dos seus custos ainda é coberta pela AEE, que financiou projetos de modernização durante o programa Ariene. O Centro Espacial Europeu é responsável pelo lançamento de grande parte dos satélites e dispositivos que orbitam em torno da Terra.

No mesmo complexo tem o Museu Espacial. O Museu mostra o resultado de uma longa história iniciada nos anos 60 quando a França foi obrigada a abandonar suas bases militares na Argélia e a Guiana Francesa foi escolhida como seu novo “parque de diversões” em direção ao Espaço. Não fiz a visita (que custa em torno de sete euros) porque ele estava fechado pra reforma.

SOBRE A VISITA

Quando cheguei ao Centro me surpreendi com o tamanho, gigante! O grupo era bem misto, com a maioria das pessoas falante do francês, com exceção de mim e mais uns três. Estávamos agendados para a visita em inglês, o que não aconteceu. Disseram que agendaram errado, que a visita em inglês não era naquele dia. Minha sorte foi que a guia era brasileira e explicava em inglês e alguma coisinha em português.

A visita é feita em um ônibus de excursão, com paradas em alguns locais. Durante toda a visita a guia não parou de falar um minuto, realmente uma visita SUPER completa. Fiquei extremamente satisfeita. De graça e com esse nível? Difícil encontrar. 

Não entendia quase nada de foguetes, mas saí de lá super feliz. Aprendi tanta coisa que já não sou mais leiga no assunto. Eles ensinam como funcionam os trabalhos, os lançamentos, falam sobre satélites, sobre acidentes, como os foguetes são montados e abastecidos. Contam detalhes extremamente interessantes.





Conhecemos o centro meteorológico, como os lançamentos impactam nas cidades próximas, nos animais e no meio ambiente de maneira geral. Vimos de perto as bases de lançamento, aprendemos como o Centro é administrado, sobre os recursos e como operam no espaço. Simplesmente incrível, recomendo 100%. É uma verdadeira imersão no tema, uma enxurrada de conhecimento. 

Nem vi o tempo passar de tão legal! Aprendemos também sobre o transporte dos foguetes, tamanhos, modelos, visitamos as centrais de monitoramento e ainda deu tempo de uma sessão de perguntas para esclarecermos dúvidas. Assistimos a um documentário com imagens e fatos reais de lançamentos, acidentes e toda preparação para que um foguete possa ser lançado, incluindo todo o trabalho feito até os satélites serem lançados. Fiquei apaixonada pelo tema. 







Há profissionais do mundo todo trabalhando nesse Centro, incluindo brasileiros. Resumindo, foi uma aventura chegar nesse lugar, mas valeu o estresse, o dinheiro gasto, tudo! Ah, eles têm uma lojinha de souvenir. A única coisa que faltou foi um wifi pra os visitantes, mas o resto foi impecável, não posso reclamar de nada. Mais um pequeno sonho realizado com sucesso. 




Minha passagem pela Guiana Francesa terminou nesse passeio. No dia seguinte parti para o Suriname, outra grande aventura que contarei no próximo post. Tive que conseguir uma van para chegar na fronteira do lado da Guiana. Consegui essa van através de um brasileiro (mais uma vez) que me passou o contato de uma pessoa que passaria na minha hospedagem na madrugada pra me buscar. Passou? Não. Não passou tinha passageiros suficiente (era domingo). Esse mesmo brasileiro me ajudou a conseguir outro transporte. Esperei mais 4 horas na rua e graças a Deus a van encheu e conseguimos sair.


Espero que tenham gostado de conhecer um pouquinho mais sobre esse país tão pouco notado e com tantas peculiaridades. Grande beijo!











Confira também

0 comments