Um sonho chamado Capadócia (Turquia parte I)
Olá, gente! Hoje vou compartilhar um pouquinho da experiência que vivi na Turquia antes da chegada dessa pandemia. Fui concluir a pesquisa do meu mestrado que fazia em uma universidade espanhola (vou contar melhor em outro post). Como fiz muitas coisas durante essa viagem achei melhor separar por posts: o primeiro (que é esse), vou contar sobre a Capadócia e o meu tão sonhado voo de balão, um segundo será especial somente sobre a capital Istambul (onde compartilharei mais sobre a cultura, costumes e culinária do país) e um terceiro compartilharei como foi meus dias fazendo pesquisas, visitando orfanatos na fronteira da Síria e etc. Assim fica mais separadinho e posso detalhar cada acontecimento.
Um dos sonhos da minha vida (não são poucos rs) era voar de balão na Capadócia. Não tinha previsão para isso acontecer até que comecei a fazer meu mestrado e me dei conta que o melhor local pra concluir minhas pesquisas de campo era exatamente a Turquia. Foi aí que tive a ideia de fazer um roteiro maluco que passasse pela Capadócia e eu conseguisse realizar esse desejo.
Resumindo, saí da Irlanda onde morava, peguei um voo para a Bulgária, de lá peguei um ônibus até Istambul e outro até a Capadócia (rs). Tive um dia e meio na Capadócia e compartilharei tudo que fiz por lá, além do voo de balão, é claro.
De Istambul para a Capadócia foram mais ou menos dez horas e 735 quilômetros. Quem me indicou o Hostel e a empresa que fiz o voo foi um amigo brasileiro que conheci na Espanha. Paguei sete euros por noite no Hostel Terra Vista. Fica no centrinho da cidade de Goreme (uma das cidades da região da Capadócia) há cem metros da estação de ônibus, super bem localizado, limpinho, não tenho do que reclamar. Deixo algumas fotinhos abaixo para que vocês possam ter uma ideia...
Mas, antes de mais nada, quero falar um pouquinho da Capadócia, que é muito mais do que apenas um voo de balão, é um lugar incrível demais!!!
Breve histórico da Capadócia
A Capadócia é uma região histórica da Turquia que fica na Anatólia Central, em uma área que era cruzamento de rotas comerciais entre a região oriental e as cidades litorâneas de Izmir, Pamukale e Éfesos. Essa rota, desde os tempos antigos, foi utilizada pelos mercadores para comercializar produtos e especiarias do oriente e em seguida revender para a Europa. O porto utilizado era o de Èfesos e através do Mar Egeu e Mar Mediterrâneo as mercadorias seguiam para a Grécia, Itália. Outra rota possível era atravessar o Bósforo e, adentrando pela Bulgária, chegar a Romênia, Austria e Alemanha.
A Capadócia situa-se no encontro de duas placas tectônicas onde, no passado, entre 30 e 60 milhões de anos, formou-se uma série de vulcões que provocaram uma enxurrada de cinzas e lava por toda a região. Com o passar do tempo, a influência dos ventos e rios provocou uma erosão nas pedras, deixando exposta toda uma série de formações geológicas diferenciadas. Vendo que essas pedras tinham fácil manuseio, o homem passou a escavá-las e a construir moradias nas próprias pedras.
Há cerca de 60 milhões de anos formou-se a cordilheira de Tauro, na Anatólia meridional, dando origem às numerosas elevações e depressões da Anatólia central. O nome Capadócia hoje é usado tanto para designar uma área de 15.000 km2 na Anatólia central quanto uma região mais restrita de cerca de 300 km2 incluindo as cidades de Urgup, Nevsehir e Goreme.
Já foram identificadas cerca de 36 cidades subterrâneas na Capadócia e acredita-se que ainda possam existir mais. Uma das mais conhecidas é a de "Derinkuyu" localizada cerca de 29 km de Nevsehir,a capital. Acredita-se que os Hititas, os Romanos, os Bizantinos e até os Proto-Hititas viveram nessa cidade. Derinkuyu tem cerca de 18 a 20 níveis (andares) subterrâneos e um complexo sistema de túneis e dutos de circulação de ar foram construídos para permitir a sua habitação. Mesmo no verão, onde a temperatura externa é de cerca de 39 graus C, a temperatura interna se mantém em torno de 14 a 15 graus C nos andares superiores, e pode chegar até a 08 graus C nos níveis mais baixo
A Capadócia é visitada o ano inteiro e sua paisagem muda um pouco de acordo com a estação do ano. Apesar de no inverno nevar, com temperaturas abaixo de zero grau, no verão o sol é bastante forte e as temperaturas passam de 34 graus, podendo chegar ocasionalmente até 40 graus. Dessa forma, se puder escolher, os períodos com temperatura mais amenas são justamente a primavera e o outono. De qualquer forma, não se esqueça, qualquer época vale a pena. Visitei a Capadócia em julho e foi maravilhoso.
Goreme
Quando se vê por aí aquelas fotos encantadoras da Capadócia, com um vale cheio de pequenos montes que servem de casas, com diversos balões voando no ar, as chances de ser Göreme que se vê ali são bem grandes. Esta pequena cidade é coração turístico da região e onde a natureza entrega tudo o que quem foi prometido nas reportagens, revistas e posts lidos. É em Göreme que você vai ter a grande experiência de vivenciar a Capadócia!
A cidade não passa na realidade de uma pequena vila dentro de um vale, sendo muito turística. Sua população de 2 mil habitantes pode pular facilmente para 10 mil nos períodos de alta temporada. Mas ela é bem preparada para o turismo.
Göreme é basicamente uma coleção de hotéis-cavernas, restaurantes, alguns bares e lojas. E claro, a natureza extremamente original a sua volta. Não é um lugar de noitadas e muitos agito. As atrações aqui são para serem vistas à luz do dia e o passeio mais imperdível por estas bandas (se é que pode se apontar só um), é andar de balão. E este passeio faz os turistas madrugarem em torno das 04-05 da manhã para terem uma das maiores experiências de suas vidas.
A cidade é bem pequena e tem um centrinho bem simples, com umas lojinhas, um mercadinho, tem que se virar. Eu comprei minhas lembrancinhas nessas lojinhas, nada tão caro.
Há inúmeros passeios que nem imaginei que existissem, pra mim era o balão e o balão, mas oferecem muitos outros como: passeio a cavalo, quadricíclo, bike, banho turco, caminhadas, etc. Como fiz o passeio de balão no dia seguinte logo cedo, me sobrou um dia todo, então pensei bem e acabei adquirindo um passeio de quadricíclo que me custou 25 euros. Valeu muito a pena porque fiz amizade com o mocinho que coordenava o grupo e depois do passeio fizemos umas aventuras muito loucas de quadriciclo. mas, vou contando aos poucos tudo isso.
Vamos começar pelo voo de balão.
Meu maior medo era chegar na Capadócia, fazer toda essa loucura pra chegar até lá, e depois não conseguir voar. Conheço várias pessoas, como o proprio amigo que disse que conheci na Espanha , que não conseguiu voar por conta das condições climáticas.
Passei um medo absurdo porque era um sonho e não queria me frustrar. Paquei com dois meses de antecendência e todo dia enchia o saco do vendedor no whatssap perguntando como estava o clima, se ele tinha novidades...(rs).
Mas, depois de muita oração, na véspera o guia me ligou falando que estava tudo certo pro dia seguinte. Nossa, nem acreditei!!
A Capadócia é uma região famosa por seus voos de balão que estão entre os melhores do mundo. Também pudera, a combinação das paisagens únicas e diferenciadas com formações rochosas de formatos nunca vistos em outro lugar junto com seus misteriosos vales e o incrível nascer do sol fazem desta uma experiência mágica.
Os passeios de balão funcionam dentro do Parque Nacional de Goreme, lugar que é declarado Patrimônio Mundial pela Unesco, e se destaca por suas formações rochosas pitorescas espalhadas por toda a área.
Praticamente todos os dias de 100 a 200 balões sobrevoam a região da Capadócia e é lá do alto que temos a chance de ter uma visão privilegiada das enigmáticas paisagens dessa região na Turquia.
Nao importa quantos passeios você faça pela Capadócia, somente voando de balão você vai conseguir ter uma noção do quanto esse local é impressionante e especial!
Se preparando para voar
A preparação para o voo de Balão na Capadócia começa muito cedo, por volta das 4h30 da manhã e funciona praticamente como um ritual. Imaginem que já não havia dormido direito na noite em que cheguei a Capadócia devido a viagem de ônibus de 12 horas e havia passado o dia inteiro andando pelas trilhas durante nosso primeiro dia de Tour pela parte norte da Capadócia.
O senhor responsável pelo passeio que comprei foi cedinho no Hostel onde estava hospedada. Já estava prontinha esperando. Entrei na van e fomos direto para onde o Balão iria decolar. Chegamos no local e ainda estava escuro, já tinham muitos grupos esperando e uma mesa posta ao ar livre onde tomamos um simples café da manhã.
Considero o voo do balão um ritual que tem que ser apreciado por completo pois até mesmo a parte de inflar os balões é encantadora. De repente você está cercada de milhares deles e só se ouve o som do gás que os infla.
Já tinha voado em Boituva, interior de São Paulo. Sempre dizia que era um "esquenta" pra Capadócia, que eu pretendia ir no futuro. Não tem nem comparação, obviamente, mas também foi um passeio legal. Inclusive fiz um post sobre esse dia! Clique aqui e confira como foi a experiência.
Como funciona esse tipo de balão?
O balão funciona a ar, isso significa que ele leva um tempinho para ficar cheio; depois de visivelmente cheio, começa a funcionar o maçarico, que esquenta o ar dentro do balão. Com as chamas do maçarico, o balão recebe ar quente (menos denso) dentro de si, e assim ele pode flutuar no céu, que tem ar frio (mais denso) O tamanho do balão varia, assim como a cesta que carregam as pessoas. Há balões com capacidade para 12, 16, 24 pessoas e por aí vai. Cada empresa estipula um determinado número de passageiros nas cestas, de acordo com o porte dos balões.
O balão já estava praticamente todo inflado, não tivemos que esperar, entramos no cesto e partimos. O cesto era dividido em 5 compartimentos, em 4 deles iam 3 turistas em cada e no compartimento principal, no meio, ia o piloto. No total: 12 passageiros e um piloto.
O voo correu às mil maravilhas. O dia estava lindo, vimos o sol nascer do balão, pudemos acompanhar muitos outros balões ganhando o céu e observar toda a beleza da Capadócia. Subíamos e descíamos conforme a vontade do vento e do piloto. Ficamos assim por aproximadamente uma hora, em um balanço suave, admirando a paisagem.
Na hora do pouso, o piloto se comunicava com o pessoal em terra para decidirem como proceder. Ele nos passou as instruções de como deveríamos nos posicionar na hora da aterrissagem. O pouso foi relativamente tranquilo, só o cesto que deu uma inclinada na hora que encostou no chão. Deu um medinho, mas deu tudo certo! rs
A experiência toda é muito legal – você nem sente a cestinha levantando voo e nem fica tonto. É tudo muito suave, muito tranquilo e mágico. Fica todo mundo num êxtase tão grande que o silêncio só é interrompido pelo barulho da lufada de fogo que é jogada pra dentro do balão, de vez em quando.
Neste dia que voamos haviam dezenas balões no ar e todos eles contribuem para deixar o cenário ainda mais estonteante e o momento mais lindo é o do nascer do sol. Estávamos bem alto e pudemos ver o sol nascer bem de perto iluminando outros balões e anunciando o dia. Incrível, mágico, impressionante e difícil de traduzir em palavras.
Ah, após todos descerem do cesto havia uma mesa preparada com champanhe para brindarmos o voo e também recebemos um certificado de voo com nossos nomes!
É difícil falar de preços porque eles devem olhar pra sua cara e escolher o quanto querem cobrar, porque perguntei pra várias pessoas e os valores eram diferentes (rs). Eu pechinchei e por ser indicação de um amigo paguei 120 euros, mas vi gente que chegou a pagar 190. Eu sempre choro e digo que sou brasileira e eles ficam com pena (rs). Tem que deixar claro porque a maioria pensa que nossa moeda é euro ou dólar e enfia a faca! Não sei como está a situação do turismo agora na pandemia e como ficarão os valores quando isso acabar, mas como nada nessa vida fica mais barato, creio que vai subir ainda mais.
Por incrível que pareça, no cesto o qual estava voando teve até um casorio chines dentro do (rs). Os guias não falavam bem ingles ou melhor, alguns não falam uma palavra em inglês então a comunicação com eles não é das melhores.
A média de voos é de 300 dias por ano, um número que nenhum outro lugar no mundo oferece. Os voos só são cancelados se o tempo não colabora.Se não me falha a memória, existem cerca de 25 empresas oferecendo seus serviços e a escolha pode não ser uma tarefa muito fácil.
O balão desce no meio do vale das chaminés de fadas (aquelas formações rochosas da Capadócia) e chega a subir a 500m a 1000 de altura e não balança nadinha. Sem dúvida uma das vistas mais bonitas que já vi na vida (fica pau a pau com os Glaciares da Patagônia). O voo dura aproximadamente 50 minutos, mas a emoção é tanta que parece no máximo 15 minutos.
Minhas aventuras com um quadriciclo
Fiz um passeio de quadriciclo, pilotando, juntamente com um grupo enorme de pessoas que foi bem incrivel. Todos casais e eu sozinha, mas foi legal (rs). Deve ter durado umas três horas, mais ou menos. O tempo estava extremamente seco, então deram pra gente uma máscara. Mesmo assim, comi poeira, entrou no olho, no nariz, foi bem tenso. Mas, foi lindo nosso destino final, acompanhando o pôr do sol de uma das montanhas. Um dos momentos mais lindos que já vivi nas minhas viagens.
Pouca gente esperando o pôr do sol
Eles vão parando em vários pontos, mas no geral dirigimos muito e como são locais de terra e areia, montanhas e estradas estreitas doi até a mão, parece mais um passeio de kart e eles não vão devagar não, tive que dirigir feito um macho. (rs). Na minha opinião, esse tipo de passeio é altamente recomendado, é uma ótima maneira de explorar os grandes vales em um curto período de tempo - definitivamente, uma obrigação na Capadócia.
Lá na Turquia, eles chamam os quadricíclos de ATV. A definição de ATV no dicionário é um veículo todo-terreno: um veículo com trilhos ou rodas projetados para viajar em terreno irregular e irregular.
A segunda parte do meu tour foi extremamente louca. O guia me levou pra dar umas voltas já não inclusas no passeio, ficamos super amigos e como ninguem tinha nada pra fazer....(rs).
O acidente!
Calma pessoal, não sofri um acidente de ATV, o acidente foi outro rs.
Sabemos que em viagens assim, alguns perrengue acontecem. Isso é normal, pelo menos pra mim. Estava passeando de ATV e resolvemos parar em um restaurante bem no alto de uma montanha. Como disse antes, o calor era absurdo e o tempo extremamente seco. Engoli poeira o tempo todo, sentia meu nariz seco etc...
Quando cheguei no restaurante, estávamos conversando, eu e o guia, e meu nariz começou a sangrar "do nada"! Que eu me lembre meu nariz nunca tinha sangrado. E nao era um simples sangramento, escorria sangue pelos braços, no chão. Corri pro banheiro para me lavar, posicionei a minha cabeça pra cima e parecia que a minha pressão estava caindo, caindo...até que caí dura rs. Desmaiei e acordei em poucos minutos. Antes de desmaiar gritava pro guia "sal, sal, sal!" em inglês, português, espanhol, e ele não entendia nada. Não sabia como dizia sal em turco rs. Detalhe que fizemos todo passeio, passamos a tarde juntos e ele não falava inglês! Como conseguimos? Mímica, google, foi realmente muito engraçado.
Basicamente, acordei, consegui pedir o sal e fui melhorando até que conseguimos partir. Não sei o que aconteceu comigo, se foi a altura, temperatura, tempo seco, pressão, foi bem estranho, mas não voltou a acontecer. Me deu medo de estar ali sozinha, sem ninguém entender nada, sdem saber se ia melhorar ou não, mas deu tudo certo. Sobrevivi! rs
Gostaram da minha aventura na Capadócia? Logo teremos post com a outra parte, com a chegada em Istambul e o período morando na fronteira da Turquia com a Síria para concluir meus estudos. Deixem comentários e sugestões. Grande beijo e até o próximo post!
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