Bósnia e Hezergovina, um outro lado da Europa

by - sexta-feira, junho 14, 2024


Oi gente, tudo bem? Hoje vou compartilhar com vocês o penúltimo país da minha viagem pelos Balcãs, a Bósnia e Hezergovina. Nunca imaginei que um dia visitaria esse país. Aliás, viajar pelos Balcãs foi algo que nunca imaginei viver. Simplesmente incrível.

Antes de chegar na Bósnia passei por Montenegro, pelo Kosovo, pela Albânia e pela Macedônia do Norte. Tudo por terra! Passei pela Sérvia também, mas será o último país que irei compartilhar porque visitei duas vezes, no início e no fim dessa viagem. Recomendo que vocês leiam os outros posts citados acima, para que entendam melhor sobre como essa viagem foi planejada e conheçam mais sobre esses países com tanta história e tão interessantes.

Pra começar, tive muita sorte ao conhecer Saravejo, a capital da Bósnia. Reservei um Airbnb e acabei ficando amiga do dono do apartamento. Ele era um imigrante turco, que trabalhava em um restaurante e me deu todo suporte enquanto estive por lá. O apartamento era bem próximo do centro (dava pra caminhar), novinho, organizado e limpo. A viagem de Podgorica (capital de Montenegro onde eu estava) até Saravejo foram 230 km. Mas não foi uma viagem qualquer, foi simplesmente a estrada mais linda que já vi. Rodeada de montanhas, lagos, túneis, incrível.  Nunca tinha visto nada parecido.


O ônibus me deixou na rodoviária e o dono do apartamento foi muito gente boa de ir até a rodoviária me buscar (de ônibus, mas foi rs). Assim, já aprendi o caminho porque não era nada fácil conseguir pegar ônibus sem entender uma placa, sem internet e sem moeda local (era noite e não tinha casa de câmbio aberta). Ou seja, meu novo colega me salvou.







Dormi três noites em Saravejo, o suficiente para conhecer pelo menos o básico da cidade. Apesar de ter tido um tempinho para descansar em Montenegro, ainda estava cansada. Viagem  por terra é muito bacana, mas cansa bastante, principalmente carregar malas pra todo lado e as longas viagens de ônibus (que nem sempre são confortáveis). Ah, esqueci de citar o calor, o verão europeu é ímpar.

VISTO E IMIGRAÇÃO

Brasileiros  e europeus não precisam de visto pra entrarem na Bósnia. Durante toda essa viagem usei o meu passaporte europeu e todas as imigrações foram tranquilas. A da Bósnia que foi mais chatinha. A policial era uma "mala" e enquanto estava analisando meu passaporte ela fechou a janelinha na minha cara (rs). Fora isso, dei uma olhada na tela do computador dela e ela falou: "Não é pra você olhar" (rs). Deu vontade de mandar ela para o inferno, mas como eu precisava entrar no país engoli a seco e esperei que ela me liberasse. Fora isso, tudo tranquilo. Zero perguntas.

Antes de continuar contando como foi a minha experiência em Saravejo, quero compartilhar um pouquinho da história e algumas curiosidades desse país que a maioria dos brasileiros sabe muito pouco.

UM POUQUINHO SOBRE A BÓSNIA


A Bósnia e Herzegovina teve origem com o fim da Iugoslávia em uma guerra sangrenta. O país é considerado uma república dos Balcãs e seus limites de território são: a Croácia, Sérvia, Montenegro e o mar Adriático (pequena região no litoral). A nação é dividida em duas entidades autônomas politicamente que são: República Sérvia (que não é a Sérvia) e Bósnia e Herzegovina.

A Guerra da Bósnia ocorreu entre 1992 e 1995 pela independência do país. Envolveu os três principais grupos étnicos que existiam na região: croatas, sérvios e bósnios. O saldo da guerra, além da destruição material, foi de milhares de mortos (as estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca (bósnio-muçulmanos).

A Bósnia era o caso mais complexo da Iugoslávia em virtude da sua diversidade étnica. Em 1991, 44% dos 4,4 milhões de habitantes eram bósnio-muçulmanos, 31%, sérvios; e 17%, croatas. Assim, essa divisão étnica resultava em diferentes interesses das três partes: bósnio-muçulmanos defendiam a independência total da Bósnia sob a liderança da maioria étnica do país; sérvio-bósnios defendiam a separação dos territórios bósnios ocupados por sérvios para anexá-los à Sérvia; e croata-bósnios defendiam a anexação da Bósnia ao território croata. Nesse clima de tensão evidente, os primeiros ataques sérvios contra bósnios aconteceram em abril de 1992.

Em relação a religião, a Bósnia e Herzegovina apresenta crenças diversas devido às muitas etnias de seus habitantes: 45% da população muçulmanos, 36% ortodoxos sérvios, 15% católicos, 1% protestantes e 3% outros. 




ALGUMAS CURIOSIDADES


  • O nome “Bósnia” se originou no Rio Bosna, enquanto “Herzegovina” remete a palavra alemã “herzog”, que significa duque, e “ovina”, que significa “terra”;
  • A Bósnia tem sido habitada por, pelo menos, 14 mil anos! Algumas gravuras rupestres descobertas na Caverna Badanj datam de 12000 ou 14000 anos atrás;
  • A bandeira da Bósnia é formada por um fundo azul dividido por um grande triângulo amarelo e uma linha diagonal com 9 estrelas brancas. O triângulo representa o formato do território do país, com suas 3 pontas simbolizando as 3 etnias que convivem lá: bósnios, croatas e sérvios. O objetivo principal do esquema de cores e das estrelas é refletir as raízes europeias do país, representando unidade, neutralidade e paz;
  • A bandeira da Bósnia foi IMPOSTA ao país pelo conselho das Nações Unidas em 1998, já que os representantes do país não conseguiam chegar a um consenso em relação ao design;
  • A Bósnia e Herzegovina tem 3 presidentes. Cada grupo constituinte na Bósnia e Herzegovina (bósnios, croatas e sérvios) escolhe um presidente para os representar durante quatro anos. Eles alternam a cada 8 meses para liderarem a presidência da nação;
  • A Bósnia sediou os Jogos Olímpicos de Inverno em 1984, a primeira vez na História que os jogos eram realizados em uma nação comunista;
  • O café turco é uma parte importante da cultura bósnia que permanece até os dias atuais como um legado da antiga dominação otomana. Os bósnios apreciam seu café forte e aromático, frequentemente servido em pequenas xícaras de cobre e o ato de beber café é uma atividade social super importante pra eles;
  • Sarajevo é conhecida como a “Jerusalém da Europa” devido à sua diversidade religiosa e cultural, uma cidade onde mesquitas, igrejas católicas, igrejas ortodoxas e sinagogas coexistem em um pequeno raio de distância, refletindo a rica herança multicultural da cidade;
  • A Bósnia tem a segunda menor costa litorânea do mundo, de apenas 20 km, perdendo apenas para Mônaco.
CLIMA

Não pense que você vai para a Bósnia no verão e vai pegar sol todos os dias. Ao contrário do que sucede em outros países da Europa, a chuva cai ao mesmo ritmo ao longo do ano de forma quase homogénea. Peguei bastante chuva, mas também tempo bom, deu pra caminhar bastante e aproveitar.


CULINÁRIA 

A culinária da Bósnia e Herzegovina é equilibrada entre influências ocidentais e orientais, estando intimamente relacionada com a Turquia, Oriente Médio, e outras cozinhas do Mediterrâneo. 

No entanto, devido ao período de governo austríaco, também há muitas influências culinárias da Europa Central. Como eu amo a culinária do Oriente Médio, eu amei!! Realmente a influência é grande, comi lanches árabes sensacionais e outros pratos maravilhosos e bem temperados.







MOEDA

A marca conversível (BAM) é a moeda oficial da Bósnia e Herzegovina. Embora muitos turistas possam estar acostumados a usar euros ou dólares em suas viagens, entender o BAM não apenas tornará suas transações mais suaves, mas também ajudarão você a aproveitar melhor o seu dinheiro durante a sua estadia. O BAM foi introduzido em 1998 como um substituto para o dinar iugoslavo.




IDIOMA E POPULAÇÃO

A língua bósnia tem suas raízes no eslavo, que se espalhou pela região desde o século VI. Os primeiros documentos escritos em uma forma primitiva do bósnio datam da Idade Média, sendo que as inscrições mais antigas em glagolítico e bósnio datam dos séculos X e XI.

Durante a Idade Média, o idioma continuou a se desenvolver e era conhecido por vários nomes, incluindo "Bosančica", uma forma escrita que era usada principalmente na Bósnia. No século XIX, a reforma linguística de Vuk Stefanović Karadžić levou a uma maior convergência da língua bósnia com o sérvio e o croata, criando uma versão padronizada do servo-croata que era fortemente orientada para a língua vernácula.

Após o desmembramento da Iugoslávia e, em especial, após a Guerra da Bósnia (1992-1995), o bósnio foi oficialmente reconhecido como um idioma separado dentro da Bósnia e Herzegovina. Isso foi em parte uma decisão política, mas também reflete a identidade linguística da população bósnia.




Em relação a população, é um país pouco populoso, com 3.272.000 habitantes, compostas majoritariamente por três etnias: os bosniaks, os sérvios e os croatas. Menos de metade da população (49,8%) vive nas cidades. Sarajevo concentra a maior população urbana da Bósnia e Herzegovina, com 342 mil habitantes."

O QUE CONHECI EM SARAVEJO


A cidade de Sarajevo fica na parte central do país, na Península Balcânica. Fica a 400 km de Zagreb (capital da Croácia), a 300 km de Belgrado (capital da Sérvia) e a 500 km de Skopje/Escópia (capital da Macedônia do Norte).




Saravejo é a maior cidade do país e é uma das mais importantes da península balcânica. Fundada em 1461 pelos otomanos, é conhecida como a Jerusalém da Europa e tem em torno de 600 mil habitantes. Ela é cercada por 5 montanhas dos Alpes Dináricos, a cidade é reconhecida pela tolerância e diversidade. Tem gente de burca, de mini saia, muçulmano rezando, sino da igreja tocando – tudo em harmonia.






A capital da Bósnia se tornou conhecida no mundo inteiro durante a guerra, que aconteceu entre 1992 e 1995, quando foi palco de um cerco brutal que durou quase quatro anos. O Cerco de Sarajevo foi um dos acontecimentos mais trágicos da Guerra da Bósnia, quando a cidade foi cercada pelas forças sérvias e os habitantes sofreram os bombardeios, a falta de alimentos e de água. O número de vítimas civis foi enorme e os cemitérios se espalham pela cidade, assim como os museus e memoriais que lembram a guerra e as suas consequências.

Fundada pelos otomanos no século XV, Sarajevo tinha todas as características de uma cidade otomana. A cidade foi dividida em duas zonas. A parte central foi chamada čaršija – era uma zona comercial, onde todas as lojas de artesanato ficavam localizadas.

čaršija principal se chamava Baščaršija. Hoje, o Baščaršija de Saraievo é o centro histórico e cultural da cidade, localizado no coração da Cidade Velha. Baščaršija fica na margem norte do rio Miljacka. É uma praça da qual se estendem as ruas estreitas, cheias de lojas. Baščaršija é a principal atração turística de Sarajevo. Ela abriga a icônica fonte Sebilj, um motivo comum nos postais de Sarajevo. A própria praça ainda tem a mesma forma e papel que costumava ter séculos atrás. É também chamada de “Praça dos Pombos”, por causa de todos os pombos que ficam por ali.


No verão, há dezenas de crianças que ficam nessa praça dando comida para as centenas de pombos que ficam por lá. Elas interagem, passam a mão, brincam com eles. Acho bastante estranho porque no Brasil temos o costume de não encostar em pombos porque, para nós, as fezes deles transmitem doenças. Não é isso? Eu aprendi assim e sempre tive novinho de pombo por causa disso. Será que estamos errados? Ou são eles que não sabem disso? 





Não é a primeira vez que vejo essa interação, já vi em outros países. O que vocês acham sobre isso? Se sabem algo, me contem nos comentários. A real é que eu cresci com esse pensamento e fiquei observando somente de longe (rs).


Aos arredores dessa praça há dezenas de lojas, restaurantes, que vendem de tudo. Parece um grande bazar. Algumas coisas mais baratas (como souvenirs), mas outras bem caras também. Mesmo assim, vale gastar alguns (ou muitos) minutos caminhando por lá.


Mesquitas de Sarajevo




Durante o domínio otomano, a cidade de Sarajevo teve mais de 100 mesquitas. Hoje esse número diminuiu, mas ainda existem várias mesquitas que atraem fiéis e turistas de todo o mundo. A mesquita mais antiga de Sarajevo é a Mesquita do Imperador, construída antes da fundação da cidade. Destruída no final do século XVI, a mesquita foi logo reconstruída e tornou-se ainda maior e mais decorada. .

O centro histórico de Sarajevo inclui vários objetos sagrados. A maioria são mesquitas, mas também existem várias igrejas e sinagogas. A Catedral do Sagrado Coração é a principal igreja católica de Sarajevo. Ela foi construída em 1889, durante o período austro-húngaro. Em 1997, após o fim da guerra, o papa João Paulo II visitou Sarajevo. Os católicos de Sarajevo decidiram honrar esse momento e colocaram uma estátua do papa em frente à catedral.


Chama Eterna


No fim da rua  que se chama Ferhadija, há um memorial para todas as vítimas da Segunda Guerra Mundial. O Memorial da Chama Eterna foi colocado no primeiro aniversário da libertação de Sarajevo, em 1946. Há um texto na parede escrito em azul, branco e vermelho – as cores da bandeira iugoslava. E na frente, há uma chama aberta que sempre está queimando. O texto na parede expressa gratidão ao exército misto de brigadas bósnias, croatas e sérvias que defenderam a cidade.


Museus de Sarajevo




A história da Bósnia e Herzegovina é excepcional e interessante. Por causa da influência otomana, difere bastante da história dos países vizinhos. Há vários museus espalhados pela cidade, depende do interesse de cada um. 

Esses são alguns deles: O Museu Histórico da Bósnia e Herzegovina abrange toda a história do país, desde os tempos antigos até os dias atuais. Se você estiver interessado em cultura otomana, visite o Brusa Bezistan ou a Casa de SvrzoMuseu de Sarajevo 1878-1918, representa o período do domínio austro-húngaro na cidade. A história mais recente é representada em vários museus e instituições. Estes são o: Museu de Crimes Contra a Humanidade e o Genocídio de 1992 a 1995 (esse foi o único que eu fui), o Museu da Infância na Guerra e o Túnel da Esperança








Ponte Latina

Cortada pelo Rio MiljackaSarajevo tem 12 pontes. Uma delas é a Ponte Latina, um pedacinho importante da história do país, local onde o estudante sérvio Gavrilo Princip matou o herdeiro do trono do Império austro-húngaro, o Arquiduque Franz Fernand e sua mulher Sophie, a Duquesa de Hohenberg, em 28 de junho de 1914 – evento que deu início à Primeira Guerra Mundial. Por isso, a Ponte Latina é um dos pontos mais visitados da cidade.



Bezistan Gazi Husrev-beg 

Este é o bazar coberto da cidade, também chamado de Old Bezistan e Great Bezistan, onde você encontra uma infinidade de coisas para comprar (muitas roupas, bolsas, bonés e sapatos que são réplicas de primeira linha). Muitas joias também, além de couro e lembrancinhas com temas da Bósnia.











Enfim, explorar a Bósnia e Herzegovina vai muito além de visitar pontos turísticos famosos; é uma oportunidade de mergulhar em uma cultura rica, repleta de histórias e tradições únicas. As curiosidades que destaquei são apenas uma amostra do que o país tem a oferecer. Seja pela sua história tumultuada, pelas tradições culturais ou pelos seus encantos naturais, a Bósnia e Herzegovina certamente deixa uma impressão duradoura em todos que a visitam. Eu voltaria para explorar mais esse país que era tão desconhecido para mim, mas hoje não é mais.


Depois de 3 dias a minha estadia na Bósnia acabou, porém a viagem pelos Balcãs ainda não. Retornei para a Sérvia, último destino dessa jornada. Dali segui viagem para a Itália. Foram mais 436 km rodados de ônibus. Mas, contarei sobre toda a minha experiência na Sérvia no próximo post.

Espero que tenham gostado. Grande beijo!


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